Por
volta das duas da manhã Geraldo levantou-se para ir ao banheiro. Lentamente ele
se desvencilhou dos grossos cobertores e sentou-se na beirada da cama. Deu um
longo bocejo e logo começou a sentir o frio da madrugada. Pegou o casaco que
estava pendurado nas costas de uma cadeira velha próxima ao criado-mudo. Vestiu-o
e pôs-se de pé com a ajuda de sua bengala. Andou devagar em direção à privada.
As pantufas gastas arrastando no chão de madeira.
Após
se aliviar, Geraldo foi até a cozinha. Agora demoraria um pouco até pegar no
sono novamente. Tomou meio copo de água e sentou-se em volta da mesa. Deu um
suspiro. Não estava conseguindo dormir direito já fazia alguns dias. O cachorro
do vizinho latia lá fora. Depois de estraçalhar o sofá do dono, este prendera o
cão em uma árvore. Latia a noite toda.
Ele se
levantou e foi até a janela da sala. Ascendeu o abajur na mesinha onde fica o
telefone. Lá viu uma coisa que o deixou extremamente irritado. Ele foi até a
porta e a abriu com toda a força que pode. Bradando e movimentando sua bengala,
Geraldo gritava com o jovem do outro lado da rua.
“Vai
pichar o muro da casa da sua mãe, seu trombadinha! Vai embora ou eu chamo a
polícia!”
O
rapaz virou-se rapidamente e ao ver o velho raivoso pegou sua mochila e saiu
correndo dali.
“Humm, se eu te ver aqui mais uma vez...”
Mas
o pichador já tinha ido embora.
Geraldo
parou por um momento quando viu o que o rapaz havia escrito. Não conseguiu
distinguir muito bem todas as palavras, mas leu o mais importante: Corrupção,
Brasil e ladrões.
Ao
entrar novamente em sua casa, Geraldo resmungou algo para si mesmo.
Conto
de Lucas Beça
0 Comentários