Por Ed Santos
Saímos da aula e fomos petiscar alguma coisa ali no bar em frente à faculdade, aquele recém-inaugurado que de longe parecia ser bem interessante, e era. A Dani à princípio não queria ir, precisava levar o carro pro marido que tinha campeonato de futebol. Umas mesinhas de madeira com cadeiras de dobrar, uma área externa nos fundos perto do lugar que a dona avisa “tem música ao vivo toda sexta”. Entramos e eu já fui logo pedindo pra baixar o som e por uma musiquinha mais suave. Queríamos bater papo e o som alto não ajudava. Entre um gole e outro, conversamos sobre os mais variados assuntos, desde a desorganização das aulas até a necessidade de manter nosso grupo de estudos ativo mesmo após o término do curso.
A Silvia volta rindo do banheiro do lugar:
- Gente! Tem uma luz verde lá que não ilumina nada. Tive que deixar a porta aberta!
- Deixa eu ir lá ver – disse levantando o Luiz, que além de trabalhar no Banco do Brasil, é poeta nas horas vagas.
Ficamos ali por pouco tempo “molhando as palavras”, como se dizia tempos atrás, e de repente a Dani que até aquele momento estava só ouvindo, vira e pergunta:
- Pessoal, posso desabafar?
- Fala Dani! “Somos todos ouvidos” – falei, usando outro termo já bastante utilizado.
- Então. Preciso me abrir com alguém. De uns dois meses prá cá tenho visitado uma instituição que prega o equilíbrio emocional, e tal. O lugar é muito legal e eu me sinto muito bem lá. Depois das seções saio me sentindo uma outra pessoa sabe, leve mesmo e o negócio ta sendo muito bom pra mim. Só que um dia desses fui falar com a grã-mestre. Ela tinha me chamado pra dizer que eu já tava preparada pra me iniciar numa outra fase. Eu achei legal e tal, e disse que eu precisaria usar uma medalhinha pra me identificar como membro daquela nova etapa. Aí ela falou que precisaria de trezentos reais pros custos da tal medalha. Você acha?
- Caramba! Trezentos reais? – perguntei.
- Você acredita? Tô indignada!
- Mas e aí? Não tem nenhuma conversinha pra facilitar, tipo umas parcelinhas? – perguntei novamente com ar de provocação.
- Nada. Ela até disse pra eu usar meu décimo terceiro. Mas aí eu disse que já está comprometido. Ai ela falou que tinha certeza que eu ia conseguir até o dia 20. Não é um absurdo?
- Relaxa. Não fica indignada não. Pra tudo se dá um jeito – disse a Silvia, calada até o momento e inquieta com o celular que não parava de tocar - era uma chamada a cobrar de uma pessoa que ela não conhecia.
- Então, mas não tem nenhuma conversa? – perguntei.
- Conversa? Só se for igual a que você teve com sua esposa agora pouco no telefone? Era pra ela que você TVA ligando né?
- Não. Eu tava falando com meu filho.
- Ah tá. Pensei que era com ela. Se fosse, tava igualzinho ao meu marido: “que é? Já vou! Não sei!”. Seco! Nossa tô de saco cheio de selinho. Faz tanto tempo que não dou beijo de língua...
Pra você ver como nesses papos de boteco a gente conversa sobre vários assuntos ao mesmo tempo, e que eles são ótimos pra refletir. Cheguei à conclusão que a Dani não tinha problema nenhum, nem com a medalhinha, nem com a falta de beijo de língua. Pior seria se precisasse pagar trezentos reais pra beijar, né Dani?
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