LEMBRANÇAS NOSTÁLGICAS DE BONSUCESSO

 

Foto: Um coração suburbano


Por Gustavo do Carmo

No final de janeiro, enfim mudei-me de Bonsucesso. Deixei para trás quarenta e quatro anos de uma vida inteira no bairro da Zona Norte do Rio, que está bem decadente, tomado pelas favelas e o crime organizado. Para matar a saudade do bairro onde fui criado, relembro vários estabelecimentos comerciais de lá, onde muitos já se foram. 

Do lado da linha do trem de onde eu morava, minha mãe comprou muitos utensílios domésticos e alguns brinquedos para mim n'A Graciosa. Hoje é uma loja velha e escura de doces. Um pouco mais para o lado, foi aberta a Top Doces, mais limpa, arejada, que se expandiu para a antiga concessionária Disnave, depois demoliu a velha Casa de Saúde Bonsucesso para fazer estacionamento e comprou até o prédio onde eu morava. O estacionamento foi coberto, o que tampou a nossa vista. Por isso vendemos o apartamento. 

Do outro lado, na Praça das Nações, existia a Juquinha, do mesmo ramo d'A Graciosa. Hoje, após funcionar como bingo (proibido pelo ex-presidente tramoiamente inocentado para voltar ao poder para acabar de dilapidar o país) e ficar anos abandonado, é uma filial da Drogarias Venâncio. Outros brinquedos que eu ganhava vinham do Palácio das Novidades (na Avenida Nova York), Lojas Brasileiras (que a gente chamava de Lobrás) e na Papelaria América, onde comprávamos também material escolar. Minha mãe fazia crediário e comprava cadernos para o ano todo. Outras papelarias muito frequentadas por mim quando criança eram a Casa Chic e, de volta ao lado residencial de Bonsucesso, os armarinhos do Seu Teixeira e a Papelaria Vascão, que ainda existe, mas mudou-se para a calçada em frente.

Discos comprávamos em uma loja ao lado da Papelaria América, que depois virou a ótica Ponto de Vista e foi demolido. Hoje é um estacionamento rotativo e um camelódromo. Na mesma quadra, onde hoje é uma loja da Casa e Vídeo, existia o Nosso Restaurante, que servia frutos do mar e exibia sempre aqueles peixões na vitrine.

Roupas a minha mãe comprava na O Campeão e calçados na Elite, que não existe mais há alguns anos, mas terminou seus dias como uma loja pequena, onde hoje é uma loja de bijuterias e chegou a funcionar como Droga Raia, fechada por mau atendimento. Naquela época, no entanto, tinha três lojas e depois viria a abrir uma megastore (hoje DiSantini, também reduzida para abrigar uma loja de roupas Ponto Mix) e uma loja de roupas, a Elite Jeans, onde hoje é o McDonalds do bairro. A grande rede americana só chegou aqui no ano 2000.

Falando em comida, lanchava no Rick (sim, tínhamos o fastfood do Ricardo Amaral aqui também), na Lobrás (em alguns sábados), na Vô Nessa e no domingo à noitinha, no ano de estreia do horário de verão oficial e permanente, comia pizza na Pizza House, que também tinha em Botafogo. Garota do Papai e Planalto também faziam parte do nosso roteiro gastronômico (que para mim se resumia a um único prato: pizza de mussarela) e não existem mais. Os pontos onde funcionavam estes dois restaurantes estão abandonados. 

Há uns dezesseis anos fui comemorar o aniversário de uma amiga no Catete e sugeri a Planalto só porque tinha em Bonsucesso. Nos últimos anos de atividade, voltei a ser freguês da Planalto, mas apenas do serviço de entrega em domicílio. Depois sofreu um incêndio e não abriu mais. Outros restaurantes eram o Carvalhão e Hiran, na Democráticos. O primeiro, na esquina com a Saint Hilaire, também abrigou um restaurante da Garota do Papai, uma oficina e hoje é uma farmácia, e o segundo, com a General Galieni, hoje é um restaurante caseiro. Sorvetes eu tomava na SunShake, que existia quase em frente a 21a Delegacia (que ainda não era legal) e depois na Sem Nome.

Churrascaria eu frequentava o Pala Pala, hoje chamada de Sabor do Grão, e é apenas uma padaria. Mas aí só com o meu pai e as minhas primas com respectivos namorados. A melhor loja da Marius ficava lá em Bonsucesso, mas só fui uma vez quando a minha hoje falecida irmã passou no vestibular.

As compras rápidas eram feitas no Leão, no Peg e Pag (que depois virou Sapasso, ficou abandonado por muitos anos, virou uma megastore da Drogarias Descontão e depois da Pacheco, que recentemente foi reduzida para abrigar uma pequena loja de sapatos femininos) e nas Sendas (que depois virou Extra e hoje é uma filial do Supermarket). Carne o meu pai comprava no Açougue Rio e depois no Mercado Central (hoje Mercado Zona Norte) e também em alguns velhos açougues que existiam no cruzamento da Democráticos com a Itaóca e na General Galieni.

Antes da Avenida Brasil virar favela, todo o domingo que eu voltava de Santa Cruz da Serra, queria passar no Bob's. Na ida tínhamos que fazer retorno. Ainda peguei o Bobs com a mesa de madeira, tipo camping, mas já em 1985 reformaram para o padrão McDonalds. A tal loja ainda existe

No dia dos pais os presentes para o meu eram comprados na Sua Majestade e Sir. Também comprávamos na Africana, que já fechou há anos e também está abandonada. 

Eletrodomésticos comprávamos na Tele-Rio (que ocupava três lojas, hoje apenas duas), Garson (hoje Casas Bahia) e Ultralar (em seus últimos anos com o sobrenome E Lazer). A maioria de presente para a minha mãe no aniversário dela e no Dia das Mães.

Ah! E quando ouvia a palavra Cinelândia, logo associava a uma loja de artigos para festas na Cardoso de Morais, que também tinha uns salgados gostosos que eu adorava comer. Hoje, a loja se chama Festolândia e antigamente ficava em uma pequena loja que abrigou a Papelaria Summer e hoje está no cruzamento da Cardoso de Morais com Bias Fortes onde funcionava um banco. A Papelaria Summer chegou a ocupar o ponto da Casa Chic, mas hoje está na Avenida Nova York. Onde era a Casa Chic hoje é a loja de móveis Vezzo. 

Fiz o meu pré-escolar no Linear e o primeiro grau completo na Escola Nossa Senhora de Bonsucesso, em frente à igreja de mesmo nome, mas que não tinha nenhuma ligação com a paróquia. Era de propriedade do trio de irmãos e professores Seu Patápio (que já era falecido quando entrei há 38 anos), o bondoso Seu Rui, que era rígido quando necessário e a temida Dona Emília. A gente tinha medo dela, mas pensando nos costumes de hoje, até que ela tinha um pouco de razão.

Fazíamos educação física na pracinha comunitária da Eudoro Berlinck, onde também costumava estrear os meus presentes de Natal quando tinha meus seis anos, típico tema de reportagem do RJTV, que mal existia na época. Hoje a escola tem uma quadra para educação física no terraço. Aliás, depois que a Dona Emília morreu, sua residência passou a abrigar instalações da escola. 

Falando de televisão, lembro de uma colisão entre os ônibus das linhas 917 e 918, ocorrida no cruzamento das ruas General Galieni com a Avenida dos Democráticos em 1989. Um deles, não lembro qual, tombou no meio da pista. Vieram todas as emissoras de TV que existiam na época (Globo, TVE, Manchete, SBT, Bandeirantes, Corcovado e até a recém-renascida TV Rio, embrião do que seria o império da Record carioca). Acho que foi um dos últimos destaques que Bonsucesso teve na mídia antes de só ser cenário de latrocínios, sequestros e tiroteios.

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