A mulher estava sentada
em uma cadeira de praia debaixo de um guarda-sol. Usava óculos escuros e lia um
romance.
Apareceu um homem em sua
frente e começou a encará-la.
- Posso ajudar?
Ele continuou encarando.
De repente ele pegou o livro
de suas mãos.
- Por que você fica aí,
enfurnada nesse livro, de óculos escuros e chapéu de palha, longe de tudo e de
todos quando estamos todos aqui, querendo um pouquinho de conexão humana? Por
quê?
Ela ficou assustada.
Levantou-se e tentou pegar o livro da mão do desconhecido.
- Mas que... Me dá isso
aqui!
- Vai ler no banheiro,
que é quando não tem ninguém, só você e a privada. É o que eu faço. É o que
toda pessoa em sã consciência deveria fazer.
Ele teve um acesso de
raiva. Rasgou o livro em dois. Atirou uma metade no mar. Jogou outra para cima,
que caiu em cima de sua cabeça.
O homem desmoronou no
chão com o impacto da metade do livro em sua cabeça. Começou a gritar e chorar
no chão. A mulher ficou sem reação. Não sabia se fugia por conta das outras
pessoas que agora estavam olhando para eles e aglomerando-se para ver o que
estava acontecendo, se tentava ajudá-lo a se levantar ou se gritava com ele por
ter rasgado seu livro.
- Moço? Moço, cê tá bem?
Ele estava agora só
chorando. Parara de gritar e espernear.
Muito lentamente ele se
levantou enxugando os olhos. Virou-se para a mulher com um olhar triste.
Começou a chorar de novo.
- Fala alguma coisa que
eu possa fazer, pelo amor de Deus.
- Nada, não tem nada.
As pessoas começaram a
se dispersar.
- O Joca morre no final
– disse e deu uma baita de uma risada.
Virou-se e começou a
correr.
- Filho da puta! Vem
aqui que você vai ver! – ela começou a correr atrás do desgraçado, mas ele era
muito rápido e ela se cansou logo.
Voltou para seu
guarda-sol. Pegou a metade do livro que estava na areia. Era a segunda metade.
Já tinha lido a primeira. Pelo menos isso.
Conto
de Lucas Beça
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