Conto de Gustavo do Carmo
Nasceu em uma família de
jogadores de futebol. Pai, mãe, tios, avôs e bisavôs foram atletas
profissionais e defenderam a seleção brasileira. O irmão do meio já estava no
Sub-20 do Vasco e vendido para a Europa. Já a irmã mais velha jogava na Suécia.
Aos 15 anos, naturalmente, Edgar
também era um apaixonado por futebol. E tinha o mesmo sonho de seguir a
profissão da família. Mas não tinha talento. Nenhum talento. Apesar do físico
apropriado, magro e alto, bom para ser zagueiro, era muito desatento. Sempre
deixava o adversário passar. Não sabia marcar. Tentou o gol, mas era um
frangueiro. E no ataque também não deu certo.
Foi reprovado na peneira dos
quatro grandes clubes do Rio. E também em São Paulo, Minas e Rio Grande do Sul.
Voltava sempre frustrado para casa. Filho de pais honestos, não se beneficiou
do nepotismo e nunca entrou em time algum indicado. A própria família refutava
sua entrada no clube. Desistiu de ser atleta. Nem tentou a sorte em outro
esporte, pois também não teria sucesso.
A muito custo, o avô tentou
convencê-lo a entrar na natação e no atletismo. Nada também. Ou melhor, não
conseguiu. Era muito lento.
Decidiu fazer faculdade de
jornalismo, para escrever sobre a profissão da família. Novo fracasso. Era
muito tímido e escrevia mal. Sua voz também era horrível para narração. Foi o
que disse o diretor da rádio, após Edgar ter se saído mal na avaliação. Tinha
língua presa. Não foi nenhuma surpresa.
Rompeu com a família e com o esporte
e foi morar sozinho. Foi trabalhar como office-boy. Mas foi demitido. Não por
ineficiência, pois trabalhava muito bem e era um trabalhador dedicado, mas por
matar dez colegas num churrasco que só falavam de futebol. Tornou-se a vergonha
na família.
Sem apoio dos pais, irmãos, cunhados e do avô, que faleceu, não conseguiu um bom advogado para atenuar a
pena. Suicidou-se na prisão. Seu caixão foi coberto com a bandeira do Vasco,
seu clube de coração.
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