Crônica de
Gustavo do Carmo
A
primeira Playboy que eu comprei pessoalmente na minha vida foi a do primeiro
ensaio da Núbia Oliveira (que hoje assina Núbia Óliiver), em 1993.
Foi
em uma pequena banca de Arraial do Cabo, cidadezinha da Região dos Lagos
fluminense. Senti um misto de vergonha (por me sentir um tarado precoce) e
orgulho (por já estar crescendo e poder comprar sozinho uma revista de adulto).
Gosto
de mulheres de seios grandes, naturais e com muitos pelos pubianos. E que sejam
mais famosas. Pois tenho mais prazer em ver a nudez de uma mulher bem vestida do
que uma desconhecida que vive se exibindo sem roupa só para aparecer.
Mas
na inocência dos meus 16 anos incompletos (ainda maior que hoje) eu ficava
excitado com qualquer coisa.
No
ano anterior, eu já tinha pedido para o meu pai comprar a primeira Playboy pra
chamar de minha. Foi a da atriz Cristiana Oliveira, que fez sucesso em
Pantanal, na TV Manchete, e, na época, estava se transferindo para a Globo,
onde iria atuar na novela De Corpo e Alma.
Também
tinha pouco peito, mas era mais atraente que a Núbia por ser mais famosa e
despertava mais curiosidade, embora tenha aparecido nua várias vezes em
Pantanal. Hoje cairia bem um novo ensaio com ela.
Ainda
em 1992, novamente pedi para o meu pai comprar as Playboys das trigêmeas gaúchas
Porto (Marilise, Lilian e Renata) e da Marinara (na época casada com o
apresentador então global Fernando Vanucci).
Eu
também “tomei posse” das Playboys do meu pai com a Renée de Vielmond, Suzana
Mattos (então esposa do trapalhão Dedé Santana), Maitê Proença (de 1987), Lídia
Brondi e da falecida fogueteira Rosenery (aquela que quase tirou o Brasil da
Copa do Mundo de 1990, ao lançar um rojão no Maracanã, mas a CBF foi salva pela
farsa do goleiro chileno Rojas) na capa.
Depois
da Playboy da Núbia de Oliveira passei a comprar outras com mais frequência. De
junho de 1995, com a Dominique Scudera (por onde anda?) até a ex-jogadora de
vôlei Ida (setembro de 1996) comprei ininterruptamente. Só boicotei a primeira
da Carla Perez porque eu já não gostava de pagode indecente. Mas o meu pai fez
o “favor” de comprar e foi parar na minha biblioteca, que está guardada num
canto obscuro do meu apartamento.
Já
não lembro quando eu parei de comprar todo mês. Mas andei comprando muitas nos
sebos da praça Tiradentes. A última nova que eu tenho foi a da atriz Nanda
Costa, já com o juramento de que só compro Playboy de mulheres de verdade:
atrizes, cantoras, escritoras e, quem sabe?, jornalistas.
O
problema é que desde o final do século passado, a Playboy brasileira está
convidando muitas mulheres de baixo interesse para as suas capas. A
deterioração cultural do Brasil é a maior culpada.
Aquela
primeira Playboy da Carla Perez já era um primeiro sinal da decadência social
brasileira. Mas a coisa ficou pior a partir de 1999, com a proliferação
programas de TV como H (hoje Caldeirão do Huck), No Limite, Casa dos Artistas, Big
Brother Brasil, A Fazenda e Pânico na TV. Mesmo assim, Tiazinha (Suzana Alves)
e Feiticeira (Joana Prado) aparecem como as Playboys mais vendidas do Brasil de
todos os tempos. Elas eram dançarinas do programa do apresentador da Globo Luciano
Huck, então na TV Bandeirantes.
Até
garotas-propaganda de refrigerante (Michelle Marchi, a vizinha do Tio Sukita) e
cervejas como Brahma (Garotas da Brahma e Maryeva), Skol (Luize Altenhofen e
Daniella Cecconello) e Kaiser (Pietra Ferrari) já foram capas.
Ritmos
musicais de baixo calão como o pagode (não confunda com o ritmo feito por um
grupo de verdadeiros sambistas), axé music e o funk (não confundir com o funk
norte-americano) também banalizaram a Playboy brasileira. Além de Carla Perez, Sheila
Carvalho, Sheila Mello, Mulher Melancia e Enfermeira do Funk são os exemplos
desta degradação.
O
corpo das mulheres também está mais artificial com o excesso de silicone, photoshop
e a depilação total íntima, o que eu acho nojento e um incentivo à pedofilia.
Nem as atrizes mostradas são tão desejadas e de destaque como antes.
Tudo
bem que Fernanda Paes Leme, Regiane Alves, o segundo ensaio de Danielle Winits
e Luciana Vendramini, Grazi Massafera (antes de virar atriz), Mariana Kupfer
(que não é atriz), Ticiane Pinheiro (que ainda não era apresentadora de TV) com
a mãe Helô (ex-Garota de Ipanema que hoje mora em São Paulo), Bárbara Paz, Ana
Paula Tabalipa, Cléo Pires, Nathalia Rodrigues, Leona Cavalli, Letícia
Birkheuer, a roteirista Fernanda Young, Bárbara Borges, Flavia Alessandra (as
duas últimas duas vezes) e Nanda Costa foram boas exceções.
Mas
sinto falta de mulheres do nível das primeiras Playboys que eu tive e de nomes
já consagrados como a americana Charlotte Rampling, as brasileiras Regina
Duarte, Ítala Nandi, Djenane Machado, Maria Cláudia, a jornalista Cynira
Arruda, Tamara Taxman, Alcione Mazzeo, Sônia Braga, as irmãs Simone e Suzane
Carvalho, Matilde Mastrangi, Christiane Torloni, Carla Camuratti, Silvia
Bandeira, Lucinha Lins, Cláudia Ohana, Betty Faria, Suzana Vieira, Maitê Proença, Xuxa, Cláudia Raia, Luiza
Brunet, Monique Evans, das irmãs Ísis e Luma de Oliveira, Isadora Ribeiro,
Luciana Vendramini, a rainha do basquete Hortência, Lúcia Veríssimo, Vera
Fischer, Tássia Camargo, Yoná Magalhães, Carla Marins, Bruna Lombardi, Isabel
Fillardis, Ângela Vieira, Marisa Orth, Alessandra Negrini, a saudosa velejadora
Dora Bria e até a discreta cantora Marina Lima, sem esquecer de revelações como
Mari Alexandre, Vanusa Splinder e Carina Girardi.
As
últimas boas revelações da Playboy foram o trio de coelhinhas Thaiz Schmidt,
Ana Lúcia Fernandes (apesar do pouco seio) e Márcia Spézia. Isso em 2008. Já
faz seis anos.
A
fase da Playboy brasileira anda tão ruim que a capa da edição do último
aniversário trouxe uma atriz coadjuvante, que fez papel de babá na novela Em
Família. Jéssika Alves é muito bonita, claro, mas não é aquela mulher para
posar nua.
Nem
as Misses Brasil estão aceitando a sair na Playboy. A última foi Joseane
Oliveira, que só posou porque participou do BBB e ainda perdeu o título quando
foi descoberto que ela era casada em 2002.
O
lamentável é que participantes do Big Brother Brasil e assistentes de palco do
Pânico na TV e outros programas de auditório estão dominando o ano das capas da
nossa Playboy. E o pior, elas exigem demais para posar e as verdadeiras
estrelas, que merecem mais, pedem o que a revista já não pode mais pagar por
causa das baixas vendas.
Para
piorar, ainda fiquei sabendo que a ex-assistente de palco do Pânico, Nicole
Bahls recusou uma proposta milionária para posar nua (pela segunda vez). Agora
que as celebridades autênticas não vão querer posar mesmo.
Neste
fraquíssimo ano de 2014, tivemos o trio Veridiana Freitas, Fernanda
Lacerda e Aricia Silva (garotas desconhecidas do verão em
janeiro); um ensaio importado da modelo inglesa Kate Moss no mesmo mês; a ex
mulata Globeleza Aline Prado em fevereiro; Mari Silvestre (assistente de palco
de Luciano Huck) em março; duas
assistentes de palco do programa de Rodrigo Faro na TV Record em abril; a
ex-BBB Amanda Gontijo em maio; uma moça apontada como paquera do Neymar em
junho, mês da trágica Copa do Mundo (por que não a então namorada titular Bruna
Marquezine?); outra ex-BBB, Vanessa Mesquita, em julho; a tímida babá Jéssika
Alves em agosto (por que não a patroa Vanessa Gerbelli?); Natália Inoue, uma
participante de traços orientais d’A Fazenda de Verão (o BBB da Record), em
setembro; a panicat Fernanda Lacerda (de novo, depois de posar em janeiro),
chamada de Mendigata em outubro e Marcela Pignatari, figurante do seriado O
Negócio, em novembro. Por que não chamaram o trio de protagonistas do seriado
da HBO?
No
balanço, duas atrizes coadjuvantes, uma modelo internacional, outra de vinheta
de abertura de carnaval, uma oportunista (no bom sentido), três participantes
de reality-show e seis assistentes de palco.
Não foi à toa que no passado, a Editora Abril cogitou se desfazer dos
direitos da Playboy no Brasil.
A
Playboy brasileira ainda segue o conceito criado por Hugh Hefner nas melhores
dicas de estilo de vida, viagens e moda para os homens, nas entrevistas e nos
contos e crônicas dos melhores escritores do país. Mas está devendo uma verdadeira
celebridade.
Minhas
mulheres de sonho são as atrizes Guilhermina Guinle, Alinne Moraes, Giulia Gam,
Mariana Ximenes, Marina Ruy Barbosa e Sophia Abrahão, as cantoras Maria Rita e
Paula Fernandes, a atriz e ex-integrante do humorístico Casseta e Planeta,
Maria Paula, as apresentadoras Fernanda Lima, Luciana Gimenez, Xuxa (por que
não?), Renata Fan, Ana Hickmann e algumas jornalistas.
Mas
apresentadoras de informativos não podem posar nuas senão somem da mídia, né? Até
entendo e respeito o tabu. É o caso de Cléo Brandão, que somente agora está
voltando a exercer a sua profissão, e Mônica Apor. O curioso é que mulheres que
fizeram vídeos bem mais picantes podem apresentar um telejornal de TV.
Só
voltarei a comprar a Playboy quando as minhas sugestões forem atendidas ou a
revista apresentar na capa uma mulher estreante e que não seja participante de
reality-show, assistente de palco, figurante de programa humorístico, funkeira
ou dançarina de pagode e axé music. Neste último caso, só se for Ivete Sangalo,
Cláudia Leitte e Daniela Mercury.
Somente
assim, a Playboy brasileira volta a ter a qualidade de antes e não precisa usar
a desculpa de que a pirataria na internet reduz as vendas. Afinal, revista com
celebridade de grande repercussão todo mundo vai querer comprar, principalmente
adolescentes ingênuos como eu era quando adquiri a minha primeira Playboy.
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