Entrou na igreja. Acomodou-se no
confessionário e começou a lamúria.
—Padre, eu fiz faculdade de
comunicação com um rapaz e o esnobava um pouco. Ele não era muito interessado
em mim, mas em outra colega nossa. Porém, acredito que se eu desse confiança,
ele se apaixonava por mim.
Laura deu uma pausa e o padre ficou quieto. Então
continuou.
— Nossas turmas se separaram,
fizemos matérias diferentes, nos formamos e perdemos contato. Eu namorei um
colega nosso da faculdade, mas larguei dele porque o cara era chato demais como
comunista e ainda me traiu com outra mulher. Na cerimônia de formatura, levei o
meu novo namorado para provocar o meu ex e o Narcélio, esse tal rapaz de quem
eu estou falando, não parava de me olhar com cara feia.
Nova pausa, novo silêncio do
padre no confessionário. Laura continuou.
— Ficamos um tempão afastados,
mas uns cinco anos depois o Narcélio me procurou por e-mail, dizendo que tinha
carinho por mim e que eu fui a primeira pessoa com quem ele conversou na
faculdade. Respondi e em seguida batemos um papo pelo chat da internet. Mas aquele
meu namorado da formatura, promovido a noivo, ficou com ciúmes e exigiu que eu me afastasse dele. O Narcélio me
mandou e-mail perguntando por que eu sumi e respondi com quatro pedras na mão.
Ele acabou sendo o culpado pelo meu rompimento. Depois fiquei com pena e
mandei uma dica de vaga para jornalista automotivo, que ele gostava tanto. Ele me
respondeu agradecendo, mas depois não me procurou mais. Ainda pedi umas dicas
de sites de carros e ele me respondeu. Foi a última vez que o procurei.
Laura suspirou e finalmente
confessou.
— Depois de vinte anos, um
namorado, um noivo, dois maridos e dois filhos, descobri que eu nunca tirei o
Narcélio da cabeça. Estou apaixonada por ele. Padre, é pecado eu me apaixonar
por ele tarde demais?
— Só considero pecado você ter
destratado esse tal de Narcélio. Vai lá no altar e reze vinte ave-marias, vinte
pai-nossos e está perdoada.
— Obrigada padre. Ei! Estou
reconhecendo essa voz. É você, Narcélio???
Narcélio abriu a cortina e se
revelou, barrigudo e de cabelos grisalhos, para a ex-colega de faculdade, que
ainda era bonita, mas estava fora de forma e com algumas rugas.
— Sim. Sou eu. É tarde demais
para se declarar a mim porque eu virei padre. Depois de tantas frustrações com
mulheres e emprego, resolvi entrar para o sacerdócio. Agora vai lá cumprir a
sua penitência. Próxima.
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