Stand up


“Você tá lá no cinema assistindo aquele filme de ação. Explosão, perseguição, o filme é foda. Geralmente é filme de super-herói. Aí o filme acaba, é claro. E começa a subir as letrinhas. Agora vamos parar por um minuto e pensar bem. Quanto tempo demora pra que as letrinhas acabem e você possa ver a cena pós-créditos? Bom, vamos lá, são duas músicas, cada uma uns 3, 4 minutos... 7 minutos. Você fica lá, sentado, esperando 7 minutos – a maioria das pessoas já saíram da sala – e você ali. Ah, mas aí chega a tão esperada cena pós-créditos. Meio minuto. Quer dizer que você assistiu um filme de duas horas, esperou mais 7 minutos pra ver uma ceninha de meio minuto? Sério mesmo?”


“A gente está ficando cada vez mais apressados hoje em dia, não é? Você abre o computador, aperta o botão, a luzinha liga, aí aparece a tela preta com a marca. Aí a tela fica totalmente preta. Fica assim por o que... 5, 6 segundos? E você lá, já cruza os braços, já começa a ficar impaciente. Aí vem a senha... Ah, a senha! Merda, toda vez tem que colocar a tal da senha. Você coloca a senha e aparece lá: "Senha incorreta. A tecla Caps Loc está On." "Pelo amor de Deus!" Você tem que tirar a Caps Lock, colocar a senha de novo, apertar Enter e aí fica aquele circulo girando antes de ligar de verdade. Agora vamos parar um pouquinho. Você já parou pra pensar que todo esse processo não durou mais do que um minuto! Um minuto! Mas não, você tem que ficar bufando por causa disso.”


“Tenta ligar um daqueles dos anos 80 pra ver o que é bom. Mas o problema não é ligar esses computadores gigantes com os disquetes. O problema é que você olha e fala: "Cadê o mouse? Era pra ter um mouse aqui!" Aí o bicho liga e aparece uma tela preta com um monte de letrinha verde. Quer decepção maior que essa? Não, acho que não tem.”


“Quando eu tinha uns treze anos eu fiz um curso de inglês. É, esse mesmo! Mas até que eu gostava. Cheguei a fazer um ano e meio. Mas a parte mais legal era a prova oral. Eu lembro que no segundo semestre a professora, gostosa pra caramba, a propósito... Ah, não é isso que vocês estão pensando... Prova oral... Professora gostosa... Não, o legal era que a prova era feita em dupla. Cada um sentava em uma daquelas cadeiras desconfortáveis que nem aquelas de faculdade, com a parte da mesa grudada, e um tinha que responder as perguntas de uns papeizinhos que nem uma entrevista. E a professora ficava só observando. Ela deu uma dica: "Fale o quanto você puder." Beleza. Aí começa. Eu não estava nervoso. Eu tava confiante. Eu sento lá, começo a falar e beleza, consigo 10, eu sabia inglês. Só que o infeliz na minha frente tremia. Tremia. Todo nervoso. Eu não sei o que acontece com essas pessoas. O que ele achava que ia acontecer? O que de tão ruim ele achava que ela ia fazer? Gritar com ele? Cortar o saco dele fora? Hã? Sério? Eu aposto, que ela não dava a mínima pra ele. Ela só queria que os 50 minutos de aula acabasse e aqueles moleques fossem embora dali.”


“Os noivos são quem deviam usar vestidos. Homens não prestam atenção no que as mulheres estão vestindo. Se a noiva dele estivesse vestindo o terno, ele falaria: ‘Beleza, vamos casar, sem problemas.’”


“E esse negócio do noivo não poder ver a noiva antes da cerimônia? Quer dizer, olha a taxa de divórcios. Será mesmo que isso ainda tem algum efeito? Talvez em 1940, mas hoje em dia...”


O comediante sai do palco e vai direto para o bar.

Um homem se aproxima e senta-se ao seu lado. É o comediante que se apresentou antes dele.

“E aí, material novo?”

“Pois é, você viu? Que merda...”


Conto de Lucas Beça

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