— Boa tarde, eu
queria falar com a Conchita? Perguntou o rapaz.
— Me desculpe, mas ela faleceu. Respondeu uma voz bem
tremida de homem, aparentemente um idoso.
— Quando foi? Perguntou assustado.
— Ano passado.
— Pôxa, mas que pena! Meus pêsames!
— Obrigado.
— Ela morreu de quê, me permita perguntar?
— Ela já tinha câncer, mas a saúde dela piorou depois do
lançamento do livro dela, quando o amigo que ela esperava tanto não apareceu.
O rapaz que ligou engoliu a saliva constrangido. Tinha
percebido que o amigo furão era ele. Ele
perguntou para se certificar.
— Me desculpe, mas esse amigo que não pôde aparecer se
chamava Rodrigo?
— A gente nunca esquece dessas coisas. É Rodrigo, sim!
— O senhor é o Zé?
— Sim, sou eu. Quem
queria falar com ela?
— Senhor Zé. Eu sou o Rodrigo. Quero te pedir perdão por eu
não ter ido. Ela me ligou, meu celular estava fora de área e ela deixou recado.
Mas não disse o número do seu telefone.
— E você não tinha o nosso telefone?
— Só o do Rio. Mas ela tinha falado que se mudou para Nova
Friburgo, mas não me deu o número novo. A
Dona Conchita ligou pro meu pai, mas ele também não anotou.
— Olha, Rodrigo. Eu não quero te deixar mais culpado.
Esquece isso. Se você tinha que pedir desculpas era à Conchita. Mas agora é
tarde demais. Ela já está morta. Eu te perdoo para aliviar a sua consciência.
— É que eu fiquei realmente muito culpado por ela ter
morrido com mágoa de mim. Disse, Rodrigo.
— Se você me permite uma indagação: por que só tentou
procurá-la agora, dois anos depois do lançamento do livro?
— Vou confessar que no dia do lançamento eu estava viajando.
Eu ia ligar para ela para desejar boa sorte e avisar que não ia mesmo. Mas aí
tive uns problemas pessoais e acabei me esquecendo de ligar. Depois fiquei com
vergonha e medo dela ter morrido, o que acabou se confirmando. Hoje eu sonhei com ela e resolvi procurar.
— Você teve sorte e azar ao mesmo tempo, meu rapaz. Arriscou
ligar para o apartamento do Rio, para onde eu voltei e estou morando com o meu
filho, mas teve o azar de saber que ela morreu. Bem, como eu disse, está
perdoado. Mas mantenha contato, rapaz.
– Pode deixar, meu senhor.
Mesmo sem levar fé na promessa do amigo de sua falecida
esposa, Seu Zé continuou na linha e perguntou sobre a carreira de escritor de
Rodrigo, que ainda está tentando republicar o seu segundo livro, boicotado pela
editora original.
O ancião disse que estava escrevendo um livro também, sobre
a vida de sua falecida esposa, já que o livro dela era sobre ele. Convidou o
novo jovem amigo para o lançamento. Rodrigo, mais uma vez, se esqueceu de ir e
avisar. Mais dois anos depois, ele resolveu ligar e descobriu que Seu Zé também
tinha falecido.
0 Comentários