Tudo começou quando eu queria ler
textos da época em que a poeta Ana Cristina César se suicidou, ao se jogar da
janela do apartamento dos pais, em Copacabana, Zona Sul do Rio, em 1983. Pesquisei no
acervo do Jornal do Brasil no Google e não achava nada.
Já conhecia o acervo online da
Veja. Até já tinha visto por ele a reportagem sobre o acidente aéreo que matou alguns
jornalistas de televisão em 1984 e mais dois da Rede Globo no dia seguinte,
inclusive o filho da Danuza Leão e do Samuel Wainer. Mas ainda não tinha me
viciado.
A partir de então, passei a
procurar por obituários de personalidades falecidas bem antes de eu nascer ou
quando era bem pequeno. Faço uma busca no Wikipédia para ter uma referência da
data da morte e então seleciono a edição de uma semana depois do falecimento.
Qualquer celebridade morta a
partir de 1968 (ano do lançamento da Veja) eu vou lá e procuro. A minha leitura
não se resume aos obituários desejados. Aproveito para ver a edição toda, disposto
a descobrir anúncios antigos (fantásticos), costumes e celebridades da época.
E descobri histórias
interessantes, como a do sucesso do lançamento do livro Meu Pé de Laranja Lima
(que depois eu procurei pelo obituário do seu autor, José Mauro de Vasconcelos),
a história de um jornalista esportivo hoje muito conhecido em Cabo Frio (o
Katuka), a reconciliação dos Trapalhões, a propaganda da construção do antigo
hotel Meridien (hoje Windsor Copacabana), a trágica morte de um bebê e sua mãe
em um assalto à banco em São Paulo há 30 anos (a violência já era como hoje e
desde aquela época já se defendia bandido) e o curioso caso de uma mulher que
se jogou do sexto andar no Leblon e pediu um cigarro quando foi resgatada, mas
morreu dias depois.
Alguns obituários eu descobri
acidentalmente, como o do escritor Pedro Nava (que se suicidou no meio da praça
em 1984) e do ex-presidente da República Emílio Garrastazu Medici - em cujo
velório houve um barraco entre o seu neto e o também ex-presidente militar João
Batista Figueiredo.
Além dos obituários de Ana Cristina César e do
Torquato Neto, procurei também pela história das mortes de Maysa, Chacrinha, Hélio
Oiticica, o ex-goleiro do Fluminense Castilho, Aracy de Almeida, Grace Kelly,
Cacilda Becker, Glauce Rocha, Coco Chanel, Pixinguinha, Noel Nutels, Adriana
Prieto, Igor Stravinski, Ingrid Bergman, John Wayne, Charles Chaplin, Garrincha,
Liilian Lemmertz, João Goulart, Carlos Lacerda, Sharon Tate (mulher do cineasta
Roman Polanski, assassinada pelo maníaco Charles Manson), Renato Russo (na
mesma edição falava da complicação da cirurgia de lipoaspiração da modelo
Cláudia Liz, que milagrosamente se recuperou sem sequelas uma semana depois), a
modelo Adriana Oliveira e etc.
O obituário da estilista Zuzu
Angel aparece censurado, mas o do ex-malandro Madame Satã aparece na página
seguinte. Dessas e outras celebridades que eu não citei, alguns funéreos ganharam
matérias completas, mas outros aparecem apenas em notas da seção Datas, que
existe desde 1970, e iniciam sempre com “Morreram”, mas que não fala só de
mortes. Fala de nascimentos também (iniciando com “Nasceu”), como o do jogador
de vôlei Bruno Rezende, então noticiado somente como filho dos então jogadores
Bernardinho e Vera Mossa.
O que dificulta a pesquisa é o bug que costuma aproximar demais as
páginas, obrigando a reiniciação da página. A pesquisa também dá resultados
irrelevantes demais. Mesmo assim, vou continuar procurando obituários, mas vou
pesquisar sobre assuntos agradáveis também.
Não há como negar que o acervo da
Veja é indispensável, como dizia um antigo slogan da revista (juro que não
estou fazendo propaganda e nem lobby para ser contratado) e é mais confiável do
que uma pesquisa no Wikipédia. Claro que eu devo ser o último a falar do acervo
da Veja, mas fica a dica.
Eu nunca vou abandonar o vício do conhecimento, mas ser viciado em notícias trágicas e obituários não é nada bom, né?
Eu nunca vou abandonar o vício do conhecimento, mas ser viciado em notícias trágicas e obituários não é nada bom, né?
Para quem quiser viajar no tempo o link é http://veja.abril.com.br/acervodigital/home.aspx. E quem quiser compartilhar determinada matéria nas redes sociais, copie e cole no seu navegador o link a seguir: http://veja.abril.com.br/acervo/home.aspx?edicao=604&pg=34 e mude para o número da edição (que aparece no menu) e a página (pg) desejadas.
Na semana passada, o jornal O Globo lançou o seu acervo. O leque de pesquisa se estende até 1925. Porém, o sistema é mais lento e não tem como ir direto para a página desejada. É oito ou oitenta. Ou você busca a matéria ou a edição inteira (que no domingo é enorme) para folheá-la toda. Se der problema ou se você tiver que sair quando estiver no final da edição, vai ter que recomeçar da primeira página. E o pior: será pago em breve. Por enquanto é gratuito. Me desculpem se estou sendo tendencioso, mas o acervo da Veja é muito melhor.
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