Não sei o nome do cemitério.
Estava lá por conta da morte de um amigo de
um parente.
Era minha primeira vez que eu punha os pés
em um, em mais de 20 anos de existência. Nos anos anteriores, quando eu era criança,
não era um lugar para mim. Quando estava na adolescência sempre ou estava na
escola ou dava uma desculpa para não ir.
Estavam velando o corpo. Aprendi ali, na
hora, o que era velar um corpo antes de enterrar. Para mim a gente simplesmente
colocava a pessoa no caixão, levava até a vala, o padre ou uma freira fazia a
oração e os coveiros botava terra no buraco.
Mas não. Velar durava horas. Quando cheguei
já tinha começado fazia tempo. Fiz o sinal da cruz quando entrei na sala.
Cumprimentei os conhecidos, parente e amigos. Para os mais próximos disse o
praxe, meus sentimentos.
Ninguém estava de preto. Achei aquilo
estranho. Não esperava que estivessem de terno e gravata e vestidos pretos, mas
pelo menos optassem por cores mais sóbrias. Havia um que estava com a camisa
florescente do Palmeiras.
As conversas também. Achei que as pessoas
falariam sobre o morto, sobre existencialismo, a brevidade da vida, ou ficassem
quietos. Mas as conversas eram sobre os mais variados assuntos. Até riam.
Fiquei na minha, apenas observando.
Pus a mão sobre o corpo em sinal de
respeito.
Depois fui para fora, pela porta que saia
para uma pracinha, entre as salas e a entrada para as lápides, o cemitério
propriamente dito.
Fiquei ali durante um tempo. Joguei
conversa fora com alguns, falei sobre futebol, sobre o que eu andava fazendo,
onde eu estava morando, o porquê estávamos distantes, que precisávamos nos
encontrar mais vezes.
Depois escapei para o cemitério. Fui
passando pelas lápides. Umas mais simples, outras bem sofisticadas. Algumas com
gavetas e em cada uma um membro da família. Outras pareciam minicasas.
O amigo do parente seria cremado.
Fiquei ali uns quinze minutos, andando pelo
labirinto. Havia uma espécie de paz ali. Pensei que sentiria um peso de todas
as mortes que haviam ali. Até esqueci o porquê estava ali.
Conto de Lucas Beça
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