Anamaria está tomando banho dentro de amplo boxe; aparenta pouco mais de trinta e cinco anos, num corpo atraente. Ao principio seu comportamento mostra-se natural; mas aos poucos, a mão que ensaboa o corpo mecanicamente, vai sofrendo mudanças: seus movimentos se tornam mais lentos até explicitar, para sua surpresa, carícias sensuais que a excitam; ela enrubesce, fecha os olhos com força, afasta a mão como se esta não lhe pertencesse, disfarça esfregando com fúria o rosto; em segundos, lá está aquela mão inconveniente provocando-a novamente. Em rápidos flashes lembra as frustradas tentativas de manter relações sexuais com o marido; o cansaço que o derruba no sonho profundo em meio de uma relação; quando conseguida até o fim, o resultado insatisfatório a relegando ao desamparo; depois, as justificativas moralistas para evitar conversas em torno do assunto.
Agora se enxuga com raiva, olhos vermelhos de auto-piedade; sai nua do banheiro; no quarto bate ruidosamente as gavetas à procura de roupas que não encontra. Anamaria tentando esquecer as palpitações de seu corpo independente e preterido não pode perceber que está sendo observada da janela vizinha à sua, situada a não mais de dez metros de distância no mesmo nível horizontal da sua: é um homem apoiado no peitoril, mostrando seu torso nu, sólido de juventude; ostenta branco sorriso indiscreto e um mirar que não esconde sua excitação; imóvel e silencioso, olha para ela.
Ela no pode vê-lo, ocupada demais em tentar esquecer a raiva; escolhida a roupa com apatia e ainda nua, evita o espelho virando-se em direção à janela aberta: a surpresa a imobiliza por segundos ao descobrir o curioso, instantes que ele aproveita para simular sorriso maroto de menino pego em flagrante, mas sem esconder a perturbação que a visão de sua nudez lhe provoca. Reagindo impulsivamente, ela corre até a janela e a fecha prontamente, enrubescida de timidez e indignação com a impertinência. Depois de o fazer, não consegue evitar um sorriso furtivo que a assusta.
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