(I)
Na escola, Olímpio só tirava nota dez. Sempre
passava de ano sem precisar fazer prova final. Ficava satisfeito e orgulhoso.
Para a alegria dos pais e inveja da irmã mais velha.
Apesar de tanto sucesso na educação, Olímpio
cresceu e se tornou um rapaz tímido, ingênuo e infeliz. Mas ainda conservava um
pouco da inteligência que tinha. Ou achava que tinha.
Um dia, decidiu vasculhar o seu armário
totalmente bagunçado atrás das provas que guardava desde a primeira série do
primário. Mexe aqui, remexe ali, encontrou uma pasta preta e empoeirada,
repleta de antigas provas. Ao conferir as questões, que hoje lhe parecem
ridículas de tão fáceis, mas cabeludas na época, percebeu que errou a maioria
delas. Se fossem corrigidas por professores mais rigorosos ou por ele mesmo,
tiraria 5,0 ou menos em todas elas. Nas provas em que tirou nota sete,
mereceria um zero. Por ter sido um bondoso e comportado aluno, concluiu que os
professores lhe davam dez só para agradar.
(II)
Aos quinze anos, Olímpio quis ser cozinheiro. Inventou
umas receitas malucas de pratos, sobremesas, sucos e coquetéis. Deu para os
pais, a irmã e as primas provarem. Todos, exceto a irmã, achavam uma delícia.
Mas não terminavam de comer. O jovem sentiu que as pessoas o elogiavam só para
agradar.
(III)
Aos vinte anos decidiu ser escritor. Já não
confiava mais na irmã que ia criticar do mesmo jeito. Então mostrou o rascunho
de um romance para os pais que adoraram. Dois anos depois conseguiu publicar o romance,
pagando pela edição. Os amigos compareceram ao lançamento. Depois de lerem, todos
disseram ter adorado.
Mas o livro ficou encalhado. Um jornal fez uma
crítica humilhante. Chamando o livro de descrição da imbecilidade e o autor de imaturo
para baixo. Olímpio chegou à conclusão de que os elogios da família e dos
amigos foram só para agradar.
(IV)
Um dia, Olímpio se estressou no trabalho.
Brigou com um colega que foi promovido em seu lugar. Empurrou o homem que se
desequilibrou e caiu de costas na janela aberta. Morreu na hora. Olímpio foi
preso e condenado por homicídio doloso. Ninguém apareceu no presídio para lhe
visitar. Nem para agradar.
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