Conto de Gustavo do Carmo
Depois de tantos trabalhos
frustrados, oportunidades perdidas e sofrimentos morais, Nestor finalmente
conseguiu fazer sucesso com o seu romance Garras da Solidão, que conta a
história de um homem solitário que luta para vencer na vida.
O livro se tornou um best-seller e Nestor, enfim, ficou rico como sempre sonhou. O sucesso do seu segundo livro motivou a editora a relançar o seu primeiro, A Vingança do Esquizofrênico, sobre um louco mimado que, com a ajuda do pai e do síndico do edifício, se vinga por ter sido processado pelo vizinho vítima do seu surto agressivo. O suspense tinha sido lançado anos antes com tiragem pequena. E também foi um dos mais vendidos.
Nestor lançou, então, um terceiro
romance e uma coletânea de vinte contos, dos quais metade foi adaptada para o
cinema. Um deles, Encontro Frustrado, foi campeão de bilheteria. Contava a
história de um casal que se conheceu numa fila de banco e teve um sexo ruim. O
que ajudou a elevar a venda do livro com este conto.
Quando Nestor tinha acabado de
comprar uma cobertura à beira da praia no Leblon para morar com sua mãe,
começaram a pipocar denúncias de plágio. Encontro Frustrado foi o primeiro.
Tinha sido escrito por uma escritora norte-americana.
A Vingança do Esquizofrênico
também era um plágio involuntário de um experiente escritor australiano, também
vítima de um vizinho esquizofrênico. Já Garras da Solidão foi acusado de plágio
por um escritor indiano. E vieram outros processos da Austrália, Itália, Japão
e também do Brasil. E também de autores clássicos, através de seus herdeiros.
Nestor perdeu todos os processos.
Todas as obras já eram famosas quando o ingênuo escritor as plagiou,
involuntariamente, achando que tinha produzido textos originais. Desconhecia tudo.
Frustrado e invejoso por não estar conseguindo fazer sucesso se recusava a ler
os livros e as reportagens sobre eles nos jornais. E dos clássicos achava-os
muito chatos. Só lia revistas de carro e futebol. Só não foi preso porque foi
provado que ele não plagiou de má fé. Era apenas um autor sem criatividade.
Mesmo assim, foi desmoralizado
pela mídia, pais, irmã, parentes e amigos. Por sorte não perdeu todos os bens da
família que tinha antes do sucesso. Apenas o apartamento e os carros luxuosos
que comprou. Teve que voltar a morar no subúrbio. E trabalhar como contínuo
numa pequena pet-shop. Ainda sofria
com as piadas dos colegas.
Após plagiar romances e contos
sem querer, Nestor não pôde processar o filho do dono da petshop que copiou descaradamente, de propósito e ainda fez sucesso
com o seu romance Indecisos. Não tinha mais credibilidade. Muito menos um bom advogado,
inclusive para livrá-lo da severa pena por homicídio por seis tiros de arma de
fogo contra o seu plagiador, que era muito influente.
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