- 5
Por que
você fez aquilo? Por quê? Por que pegou aquele carro, bêbada daquele jeito?
Foi o
filho da puta daquele seu namorado, não foi? Aposto que sim.
Bom,
ele morreu hoje.
Se eu
pudesse eu cuspiria no caixão dele amanhã, no enterro.
Só não
faço isso por você.
Mas eu
não vou lá de jeito nenhum.
- 6
Eu não
fui ao enterro. Nosso amigo Robinson disse que foi normal. Calmo. Teve os
choros de sempre, que tem em todo funeral.
Fiquei
em casa. Domingo a locadora fecha às cinco, então eu peguei dois filmes pra
assistir e dormir.
Passei
no supermercado e comprei dois daqueles pacotes de pipoca de micro-ondas e uma
garrafa de 2 litros de coca. Fui direto pra casa.
Preparei
a pipoca “deliciosa”, deixei a coca do lado do sofá, coloquei o filme e me
anestesiei pelas próximas duas horas e meia.
Fiz um
intervalo pra comer alguma coisa de mais sustância quando o primeiro filme
acabou e voltei de novo para mais duas horas de diálogos clichês, explosões e
perseguições de carro.
Foi
isso que eu fiz no dia que o filho da puta desgraçado do seu namorado foi
enterrado.
- 7
Pois é,
como eu previa, a frequência das cartas não está sendo diária.
Você
riria da minha cara, por eu pensar que conseguiria fazer alguma coisa assim.
Não
estou conseguindo escrever tanto quanto eu gostaria também, mas eu estou
tentando.
É que
era tão fácil simplesmente falar com você, conversar... Ligar e dizer “E aí,
tudo certo?” E vamos concordar que você que era a leitora da dupla, não eu.
Você que era boa com as palavras.
- 8
A cada
dia que passa, eu penso menos em você.
E isso
me preocupa de tal maneira que você não tem noção.
E se eu
começar a esquecer o som da sua voz, do jeito que você fala?
Parte 2 do conto de Lucas Beça
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