Cartas para ninguém (13, 14, 15 e 16)



- 13
Estou fumando muito ultimamente.
Talvez eu devesse parar.


- 14
Meu chefe está falando que talvez desse ano não passe. Somos a última locadora da cidade e ela já está começando a dar prejuízo. Quase ninguém mais vai lá, além de meia dúzia de gatos pingados.
Mas aí apareceu um doido falando que está fazendo o segundo número de um folhetim de uma página dobrada sobre cultura, filmes, livros, etc. Ofereceu uma parte pra gente. Colocaria um anúncio bem grande e faria uma matéria indicando filmes para os seus leitores.
Trouxe o primeiro número. Até que não era tão ruim.
Esse segundo número terá uma tiragem de 5.000 exemplares e será distribuído de graça pela cidade.
Meu chefe disse que essa é a última esperança.
Se isso não der resultado, ele vai fechar as portas e eu vou ficar desempregado pela primeira vez na vida.


- 15
Hoje eu fui te visitar mais uma vez.
Você está perdendo peso.
Mas continua muito bonita como sempre, apesar de tudo.
Fitando você lá, parada, sem expressão, um desespero começou a crescer dentro de mim.
Eu não conseguia me lembrar do seu sorriso.
Rapidamente eu tirei o celular do bolso e procurei por uma foto sua.
Não foi muito difícil. A mais recente era uma que eu tinha tirado de você sentada na poltrona, fazendo pose, sorrindo, mas com uma careta de praxe.
Aos poucos minha respiração foi voltando ao normal.


- 16
De manhã estava passando um desenho do Tom & Jerry, mas uma dessas versões novas que você gostava.
Mesmo eu não gostando, eu assisti.
Depois passou Riquinho.


Parte 4 do conto de Lucas Beça

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1 Comentários

Roberto Aniche disse…
O conto é maravilhoso e triste ao mesmo tempo! Vai terminar? Parabéns!
Roberto Aniche