Todos
os anos, sempre no dia 30 de novembro, Edvaldo montava a árvore de Natal no
apartamento onde morava, desde que nasceu, em um pequeno prédio em Olaria. Quando bebê
assistia à mãe armar um velho pinheiro de papel alumínio. Aos cinco, os seus
pais resolveram inovar e usaram um galho natural, colhido na Ilha do Fundão,
decorado com algodão e bolinhas. Edvaldo lembra vagamente que foi com o pai
buscar a árvore.
No
ano seguinte, após um passeio na praia, estava com a mãe quando ela comprou um
pinheiro artificial, de plástico verde, uma cartela de papel com um Papai Noel
desenhado, segurando uma placa escrita Feliz Natal, para pregar na porta, um
rolo de pisca-pisca e dezenas de bolinhas. Foram enfeites simples e baratos, é
verdade. Mas, com exceção do pisca e das bolinhas de vidro, duraram vinte
natais e surgiam na decoração do apartamento sempre no dia 30 de novembro.
Quando
adolescente ajudava a mãe a montar a árvore. Adulto, passou a armar sozinho
porque a mãe já sofria de dor nas costas. A árvore e o Papai Noel de papel
envelheceram e já estavam gastos pelo tempo. A primeira quebrada e torta, o
segundo rasgado e amarelado. Com pena de jogar fora, Edvaldo ainda usou os
enfeites por mais uns três anos. A mãe, que já usava fitas de papel laminado
que desfiavam de tanto serem puxadas na hora da desmontagem no dia 6 de janeiro,
ainda comprou lacinhos de cetim para completar o buraco deixado pelo tempo. Edvaldo
comprou um spray de espuma que simulava neve para disfarçar os defeitos da
árvore.
Passados
os três natais, Edvaldo precisou deixar a pena de lado, segurar o choro e jogar
a velha árvore e o Papai Noel rasgado no lixo. Comprou outra, de um metro e
setenta, igual a sua altura, uma pequena guirlanda para a porta, enfeites
brilhantes, como correntinhas com notas musicais, e novas bolinhas, agora de
plástico.
Usou
por cinco anos, até trocá-la por uma árvore ainda maior, com dois metros e
meio. A mãe ajudava pendurando as bolinhas na altura média da árvore, pois não
podia alcançar o topo e, muito menos, abaixar por causa da dor nas costas.
Nesse ano, Edvaldo inovou e resolveu decorar, também, com luzes piscantes, todo
o andar do prédio. Os vizinhos adoraram. Principalmente o síndico, que aprovou
a decoração, apesar de ter aumentado a conta de luz do prédio.
No
ano seguinte, pela primeira vez, Edvaldo não montou a árvore no dia 30 de
novembro. Uma semana depois, sete de dezembro, o síndico ia perguntar se o
vizinho não faria a decoração, mas viu-a já pronta no corredor. Ainda assim, o
administrador quis saber o porquê do atraso. Edvaldo respondeu que estava
trabalhando muito e não tinha tempo para armar a árvore na tradicional data.
Em
março do novo ano, Edvaldo foi transferido para São Paulo, deixando a sua mãe
morando com o pai em Olaria.
O pai não gostava de natal, muito menos de armar a árvore. A
mãe não podia montar por causa dos seus setenta e quatro anos. Tinha que
esperar Edvaldo voltar para o Rio, o que só aconteceu na antevéspera de Natal,
pois suas férias atrasaram. O síndico estranhou novamente.
Passou
mais um ano e a decoração natalina mais uma vez não foi montada no dia 30 de
novembro. Pelo terceiro natal consecutivo. O síndico já sabia que ele
trabalhava em São Paulo
e só armaria no dia 23 de dezembro. Só que Edvaldo não fez a decoração. Nem veio
ao Rio. Os pais de Edvaldo passaram o natal sozinhos e tristes. Não abriram a
porta para ninguém. Nem para o síndico.
No
ano seguinte, Edvaldo voltou a montar a árvore no dia 30 de novembro. Desta
vez, não só decorou o seu apartamento e o andar, como também todo o edifício. Com
a ajuda da mãe e, pela primeira vez, do pai e da esposa grávida. Edvaldo já era
o síndico do condomínio. Na Barra da Tijuca. Para onde levou os pais para morar
com ele na cobertura de quatro quartos.
O
síndico do prédio de Olaria, onde Edvaldo nasceu e passou trinta e cinco anos
de sua vida, não soube que, depois daquele natal triste, o vizinho que viu
crescer ficou com a consciência tão pesada por deixar os pais sozinhos que
pediu demissão no emprego de São Paulo, voltou para o Rio, casou-se, juntou as
economias e foi morar na Barra.
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