Vou escrever um conto.
É, é isso. Vou escrever
um conto!
Vou escrever esse conto
e depois mais outro e mais outro. E aí, quando eu tiver uns 20, vou botar tudo
num livro e vender.
É, vou fazer isso mesmo.
Mas primeiro vou ter que
arranjar dinheiro pra pagar a gráfica. É, vou ter que economizar. Mas depois
que tiver com tal livro na mão, tudo certo.
Sabe o que eu vou fazer?
Vou pegar os livros,
acho que, sei lá, uns 500, 1.000, botar no meu carro velho e sair por aí
vendendo.
Uma semana em cada
cidade.
É, é isso mesmo que eu
vou fazer.
Mas eu vou escrever
sobre o quê?
Acho que a primeira
história vai ser de ação. Tem que ter morte, sangue, tem que vim de dentro. Tem
que derramar sentimento. O cara que vai ler tem que sentir a dor do personagem.
Tá entendendo?
Primeiro o cara acorda.
Toma café sai de casa. E aí
...
Ele leva um soco. Cai.
Corta pra ele num sofá.
Um cara de terno está de frente pra ele. Olha só... E aí esse cara de terno
começa a perguntar alguma coisa em russo pra ele. Mas ele não fala russo, ele
não entende.
Não, não, russo não,
muito estereotipado, sabe... O cara de terno é comum. O cara é forte, mal
elemento, coisa ruim mesmo, mas não vai ser russo, não.
Então, ele começa a socar
o cara, falando pra ele que ele ter que contar o que ele sabe.
E aí, pensa só: uma
superheroína entra em ação. Ela é fodona. Bate no cara, derruba ele.
O cara está a salvo.
Puta que pariu, que foda! Aí, sabe o que acontece?
Ela solta o cara e ele mata
ela. Caralho, que foda! Sabe por que ele faz isso? Porque era armação.
Ele armou pra ela e ela
caiu direitinho.
Eu sou bom mesmo ou não
sou?
Hein, hein?
Ai, ai, ai. Ai,
ai, ai!
Ele vence. O vilão, que
você, trouxão, que achava que era a vítima, mata ela e triunfa.
É, é isso aí!
Agora só falta pensar
nos outros 19.
Conto
de Lucas Beça
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