PROVOCOU, LEVOU!



Há alguns meses, o Guaraná Antarctica, incomodado com o sucesso do refrigerante de maracujá da Fanta (ícone nos sabores laranja e uva e lembrada por muita gente da minha idade pelo extinto sabor limão, substituído pelo Sprite), fez um daqueles típicos comerciais de provocação ao concorrente, usando a ironia como instrumento de comunicação. 

A AMBEV (ou melhor, InBev, já que agora foi comprada pela dona da Budweiser) já produziu o concorrente diretíssimo da Fanta: a Sukita, nas mesmas versões laranja e uva. O auge foi no início do século, lá pra 2000 ou 2001, com os comerciais do Tio Sukita, aquele coroa que cantava a bela jovem e era chamado de tio por ela no elevador. Depois, a Michelle Machri posou nua na Playboy. Antes da Sukita, a própria Antarctica, ainda independente, fabricava a Pop, que teve sabores laranja, uva e até cola, para concorrer com a Coca-Cola. A marca Sukita era da Brahma, que se fundiu à Antarctica na criação da AMBEV. 

Seja guaraná, laranja, maracujá ou cola, são refrigerantes que concorrem (ferozmente) entre si. Só que, cansada de brigar com a Coca-Cola, a Antarctica resolveu provocar a marca de sabor de fruta da concorrente, a Fanta. 




Por isso, lançou o comercial "Maracujá" com a pergunta "Por que o seu refrigerante é feito de guaraná e não de maracujá?" para mostrar que pessoas que bebem maracujá são chatas, lentas, moles, etc. Patrocinado pela bebida, o surfista campeão mundial da modalidade, Gabriel Medina, seria um jogador de bocha (aquele jogo de bolas semelhante a um boliche, muito praticado por idosos, mas também por jovens). Ah, ele estava vestido como um idoso. Até o slogan do guaraná, Bora Lá!, foi alterado para "Bora Depois!". E o mascote era uma lesma, claro. 

Na época, cheguei a comentar no Twitter que a Antarctica (não consigo chamar de AMBEV e muito menos de InBev) deveria ter criado um refrigerante de maracujá em vez de ficar debochando do concorrente. Mas logo entendi que, na verdade, saiu mais barato produzir um comercial (basta contratar uma agência de publicidade para criar a comunicação) do que criar um novo produto (buscar fornecedores da fruta, fazer testes de aceitação, criar linha de produção e, enfim, fazer a publicidade).

Para cada ação, há uma reação. E como todo ser vivo atingido, tem o instinto de contra-atacar. Algumas pessoas são mais racionais. E a Coca-Cola, ou melhor, a Fanta, é um exemplo desse caso. Em vez de devolver o deboche com outro comercial provocativo, foi além: investiu mais e criou um novo produto, que foi direto no concorrente "engraçadinho". Lançou a Fanta Guaraná. Bem-feito.


Ao mesmo tempo que é uma resposta ao concorrente, a Fanta é uma nova tentativa da Coca-Cola de emplacar um refrigerante da típica fruta brasileira. A marca americana já teve o Taí (anos 70, 80 e 90) e Kuat (desde o final da década de 1990). Não tenho informações se a Fanta Guaraná vai substituir o Kuat. E não cabe neste texto buscá-la, pois isso é uma crônica e não uma análise de produto. 

Não odeio o Guaraná Antarctica, De vez em quando eu bebo.  E até guardo na lembrança da minha adolescência aquele ótimo comercial que combinava pizza e pipoca com guaraná.

A minha crítica ao comercial provocativo à Fanta foi por causa da arrogância disfarçada na provocação e não porque eu gostava mais do guaraná Taí. E muito menos ganhei dinheiro da Coca-Cola para criticar a concorrente. Faria a mesma crítica se fosse o contrário. Só odeio arrogância e economia porca.



Crônica de Gustavo do Carmo 

P.S.: E o Guaraná Antarctica lançou o seu refrigerante de maracujá? Não. Fez outro comercial provocando a Fanta, agora usando o clássico sabor laranja do concorrente. Fingiu lançar um Guaraná Antarctica de laranja. Com o valor gasto nas duas campanhas publicitárias, daria para a Antarctica produzir o seu refrigerante de maracujá. 


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