— Ah não, pai! Eu não vou tirar
foto com ela.
— Mas ela é sua irmã.
— Eu sei! Mas tira ela perto
de mim. Estou com medo dela.
— Vocês sempre foram tão amigas.
Por que agora não quer mais tirar foto com ela?
— Falou certo. Nós fomos.
Não somos mais.
— Eu não vou!
— Eu estou perdendo a
paciência, Gertrudes! Se não tirar essa foto com a sua irmã eu vou te dar uma
surra de vara de marmelo!
— Prefiro a surra! Mas eu
não quero tirar foto com a Januária.
— Ela vai ficar magoada com
você.
— Não vai, não!
— Vai sim! Ela ama você.
Vocês são tão amigas.
— Pai! A Januária está
morta! Eu não vou tirar foto ao lado de uma defunta posando de viva! Pra quê
essa mania?!
— Essa é uma tradição
familiar, Gertrudes! Desde o século XVIII nossa família tira fotos com parentes
mortos. Agora fica quieta que eu preciso tirar a foto.
— Pai! Nós estamos no Século
XXI.
— Eu sei! Agora cala a boca
e me deixa tirar essa bendita foto com a sua irmã que o corpo dela está
começando a apodrecer e eu preciso devolvê-la para a funerária. Depois você
tira uma selfie com ela.
E as duas irmãs tiraram a
última foto juntas. As mãos de
Januária, morta de câncer aos 16 anos, já estavam acinzentadas.
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