Crônica de Gustavo do Carmo
Há uns doze anos, quando reclamava com uma colega de faculdade de publicidade que ninguém me procurava, ela me deu um fora me perguntando:
— Você procura?
Na época, fiquei completamente sem graça e apenas murmurei que sim. Ela duvidou, claro. E ainda retrucou com um “Não procura nada”.
Para eu ter a atitude de procurar alguém preciso ter a segurança de que serei bem recebido ou não ser tratado como um chato de galocha. Pois comigo acontece exatamente o contrário disso.
Não vou contar detalhes, mas alguns ex-colegas - inclusive quem eu considerava muito amigo - davam desculpas de que estavam muito ocupados com o trabalho, enquanto sabiam de tudo sobre os outros da turma. E eu cometia o erro de cobrar, insistir, causando ainda mais constrangimento e inimizades.
Me sentia culpado de cobrar, pois em algumas vezes eles estavam ocupados mesmo. Mas ao mesmo tempo era cristalina a ausência de vontade de manter uma amizade comigo. Já me tornei até persona non grata para eles. No antigo Orkut nunca interagiam comigo. No Twitter nunca me procuram para seguir e no Facebook já fui rejeitado por vários, com a desculpa presumida de que eu os deletava no Orkut.
Hoje em dia falaria tudo isso para essa ex-colega, de quem, aliás, não tenho mais notícias e também nunca foi minha amiga de verdade. Ainda completaria que só procuro quando me sinto bem-vindo. Detesto ser inconveniente.
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