A ARROGÂNCIA DAS EDITORAS

Crônica de Gustavo do Carmo 




Você coloca um ponto final no seu sonhado romance e... aí depende. Se você for famoso ou amigo íntimo, parente ou cônjugue de um editor de editora, a obra já estará nas livrarias em no máximo um mês. Mas se for um simples mortal sem amigos influentes vai ter que esperar muito mais tempo... para ter uma resposta. E provavelmente negativa.

As editoras, com a velha desculpa de que só  investem naqueles autores que dão lucro certo, só aceitam facilmente os originais (como são chamados os rascunhos de texto dos escritores) de gente famosa e amigos.


Para dizer que são democráticas elas aceitam originais de novos autores. Mas vêm impondo condições cada vez mais absurdas e assumem na cara-de-pau que não são obrigadas a responder.

A maioria só aceita originais impressos. Se o seu livro tiver muitas páginas você pode gastar meia resma de papel e meio cartucho de tinta, além de pagar o envio pelo correio (caso a editora fique em outra cidade) para não ter resposta ou receber uma carta com palavras mentirosamente elogiáveis e lamentáveis (que contêm lamentação, não apenas no sentido de revoltantes). Nem sequer se dá ao trabalho de devolver. Só de destruir para você quando não aceita.

Revoltantes mesmo são outras exigências que fazem quando algumas aceitam pela internet: pedem preenchimento de formulário com resumo da história (se é um livro com 20 contos eu tenho que fazer resumo dos 20? E se pedem resumo é porque não estão com o mínimo interesse de ler), público-alvo do livro, texto em fonte Times New Roman tamanho 12 e duplo espaço. Teve até uma que pediu para descrever o que você espera do livro, pergunta típica de empresa de recursos humanos.

Uma vez tive um trabalhão para preencher o burocrático formulário e o navegador atualizou-se automaticamente. Tive que começar tudo de novo. Recomecei só em outro dia. Meses depois aprovou os originais. Mas quis me cobrar 13 mil reais. Na verdade, era o custo da compra de 500 livros. Recusei e passei a boicotar a editora.

O absurdo mais recente é uma editora que exigiu o formulário e os originais em PDF. A sorte é que um dos meus originais estava no arquivo desejado, mas porque eu só converti para vender numa editora virtual. Mandei o outro em Word mesmo, com a maior bronca no e-mail.

 Concordo com as editoras que pedem o registro na Biblioteca Nacional. Só não concordo com as editoras que usam o perigo de plágio para justificar o não recebimento de originais por e-mail. Ora. Se o texto está registrado, qual o perigo?

Impresso ou não, quem for plagiar, vai plagiar se não estiver registrado. E se estiver copia a ideia, já que ideia não caracteriza plágio. E não duvido nada que muitas editoras usam essas ideias para os seus autores apadrinhados.

Eu já aceitei esses processos burocráticos e arrogantes de avaliação de novos originais. Já imprimi uma resma inteira de papel, gastei um cartucho inteiro para imprimir duas cópias do meu primeiro romance e mandei para duas editoras (uma era do Rio, mas eu estava em Cabo Frio), pagando duas taxas de Sedex. Depois mandei para uma terceira editora.  A de São Paulo (Companhia das Letras) não me respondeu.  Uma do Rio (Record) me mandou uma daquelas cartas com palavras lamentáveis e outra daqui (Rocco) me sugeriu ir buscar pessoalmente. Fui até o Cosme Velho e encontrei o meu original intocado, sem qualquer anotação. Se eu fosse fazer um exame de impressão digital, acho que iria encontrar só as minhas ali.

Poucos anos depois, agora com uma coletânea de contos, fui pessoalmente à Rocco, já em outra sede: um escritório dentro de um moderno arranha-céu na rua Presidente Wilson. Enfrentei um vento forte vindo da região do Castelo na longa e demorada fila para pegar o crachá de acesso ao edifício. Lá em cima, depois de uns dez minutos de espera, ouvi que eles não publicavam contos. Meses depois lançaram uma coletânea de contos da Patrícia Melo.

Depois de ter me decepcionado com dois livros (um romance pela paulistana Giz Editorial - que até se esforçou para divulgar e distribuí-lo, mas foi mal revisado e nenhum dos sócios se deu ao trabalho de vir ao Rio. Até que vendeu razoavelmente –  e uma coletânea de contos pela carioca Multifoco – que sequer deu entrada no ISBN, me entregou os convites para o lançamento na véspera do evento, não distribuiu, fez uma revisão péssima e ainda ficou puta quando reclamei) e ver artistas e amigos dos editores fazerem sucesso com os seus livros bem divulgados eu desisti. Não  me humilho mais para pedir editora, mas faço questão de humilhar editora arrogante.


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2 Comentários

Caro Gustavo,

Tudo o que refere neste post, é verdade. O mesmo se passa aqui em Portugal com as Editoras.
Se o autor é conhecido, o seu livro é publicado em pouquíssimo tempo, com erros, o que mostra ao leitor uma má revisão e cuidado. No entanto, se o autor é novo e pretende lançar-se no mundo da escrita, está lixado.
Quando publiquei o "Teclas", enviei para uma editora aqui em Coimbra bastante conhecida. Demoraram um mês a dar-me uma resposta concreta. Telefone para a semana, ainda não vi, volte a ligar para a semana, está na revisão... epor fim, para cúmulo, perguntaram-me ao fim de um mês, se o meu livro era patrocinado.
Quando disse que não, desmoronou tudo. Não podiam publicar, pois hasvia que dar prioridade aos que eram patrocinados. Mandei destruir o original e acabei por não publicar por eles.
Foi quando vim à Internet e encontrei uma editora em Lisboa que em dez dias se comprometeu a ler o meu original e dar-me uma resposta favorável e assinámos contrato. Desde maio de 2012 a maio de 2013, o meu livro andou cá e lá com revisões, e mais revisões, mas sei quew ficou sem erros, num português de Camões e como eu queria que ficasse.
Valeu um ano de esforço!
Ao contrário de si, recomendo esta Editora e vou continuar a trabalhar com eles.
No fundo, acho que também é uma qusstão de sorte.

Abraço!
Andrey Ferreira da Silva (Itapevi-SP) disse…
É Gustavo, não é fácil pra publicar um livro e obter sucesso, o que vale é mais ou menos aquele seu post do 'Quem Indica?'