o brilho das chamas ondulou na turgência dos seios nus

de Miguel Angel



Uma poça de água se formara aos pés de Angélica e Garcia advertiu-a do perigo de apanhar um resfriado e lhe sugere tomar providências. Assentindo, ela subiu ao cômodo e Garcia se incumbiu de atiçar o fogo; passados uns minutos, ele a viu descendo, calçando chinelos atoalhados e coberta com uma manta; parecia ter esquecido sua recente revolta, mas seu nervoso sorriso exteriorizava um sentimento insondável para Garcia; as roupas molhadas que levava nos braços foram espalhadas perto do fogão; Angélica terminou de preparar o café e logo a bebida os confortou. O entardecer amortecera a luz na janela fechando as folhas das acácias e acentuando seu perfume; sentados lado a lado diante da mesa, observaram fascinados o crepitar das chamas envolvendo-os em luz e calor; espontâneo, sem saber bem por que, Garcia pousou sua mão na dela; respondendo, ela copiou o gesto com a outra e o movimento fez a manta que a cobria escorregar dos ombros indo se aninhar no seu regaço; recatada, ela fez menção de recolhê-la, mas o doutor a impediu, segurando-lhe ambas mãos, sem encontrar resistência; o brilho das chamas ondulou na turgência dos seios nus e Garcia obedeceu ao irresistível repousando sobre um deles seu afago; os olhos se encontraram retratando idêntico claror; assim enfronhados no silêncio, demoraram-se por um longo tempo.
Não te importes com o passado, não sondes o destino, não percas este instante: Eis a paz
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Do romance: "Moscas e Aranhas"

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