Entrou na nave da Igreja da
Glória. Linda em seu vestido de seda indiana, decorado com cristais Svarowski
importados diretamente da Áustria, renda grega e véu de um quilômetro de
comprimento. Shaiane estava se casando com um bilionário goiano de família
libanesa e iria se mudar para São Paulo depois da lua de mel na Dinamarca.
Os bancos da igreja eram
decorados com jasmin. Shaiane entrou acompanhada do pai, um modesto comerciante
da Baixada Fluminense. O casal de sobrinhos, um de cada irmão, era a dama de
honra, de oito anos, e o pajem, de cinco. Este trazia as alianças em uma
pequena caixa de porcelana.
Padrinhos do casal, pais do
noivo, mãe da noiva e o próprio noivo já aguardavam no altar. O casamento
ocorreu normalmente sob os ritos católicos e as bênçãos do padre. No momento em
que ele perguntou se havia alguém disposto a não permitir o casamento ninguém
se manifestou.
Patrício, ex-namorado de Shaiane,
que deveria se manifestar contra o matrimônio da moça, não apareceu. Ele teve
que levar a mãe ao médico, o atendimento demorou, teve que se arrumar, o ônibus
não apareceu, o primeiro táxi enguiçou, o segundo taxista se perdeu, o Uber
pegou engarrafamento e ele só chegou na igreja à noite. Tarde demais. O templo
já estava vazio e sem a decoração de jasmin. O padre já o tinha recolhido na sacristia.
Shaiane realmente estava
esperando por Patrício. Não estava muito disposta a se casar. Havia descoberto
que Harlin, seu noivo, estava sendo investigado por corrupção. E torcia para
ser resgatada pelo ex-namorado, por quem ainda estava apaixonada.
Como Patrício não apareceu, Shaiane
aceitou o casamento, entregou-se ao marido, teve dois meninos gêmeos e foi fiel
a ele, mesmo após Harlin ter sido preso e seus bens bloqueados pela justiça,
liberados após ele fazer uma delação que quase derrubou o presidente da República.
Já Patrício foi morar nos Estados
Unidos como imigrante ilegal. Casou-se no cartório com uma americana gorda de
sessenta anos, só para pegar o Green Card e viver legalmente como taxista
autônomo em Nova Iorque, onde vivia preso no trânsito.
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