De volta à cena



Sabe quando o que era pra ser uma simples investigação mexe tanto com a tua cabeça que você não se reconhece mais? Provavelmente você não sabe.
Era em 1941 ou 1942, eu não me lembro muito bem. Tinha alguma coisa errada com aquele caso. Eu tinha que voltar à cena do crime. Era em uma casa antiga, acho que do século XIX. Já estava bem gasta por conta do tempo e a pintura amarela original estava aparecendo.
Tomei o extremo cuidado na casa para não ser visto. A vítima foi encontrada sentada no chão da cozinha com um tiro na cabeça. Era uma garota. Gentil, simpática, que nunca causou problemas, segundo aqueles que trabalhavam com ela no cassino.
O sangue seco teve um efeito ruim em mim. Conseguia ver a garota assustada levando um tiro. Eu estava de pé, no lugar em que o assassino fez o disparo. Sentia pena daquela garota. Acho que foi isso que me levou a voltar lá.
Estava tudo escuro. Um silêncio denso. Depois de olhar a casa e não encontrar nada, resolvi ir embora. Porém ao girar a maçaneta da porta principal, um som me deteve. Mas que um som, um frio na espinha. Rapidamente puxei minha arma e apontei para a coisa mais imprevisível que poderia estar ali.
Era uma armadura medieval com os braços cruzados. Ela estava toda enferrujada, suja e tinha um pedaço de pano vermelho amarrado na cintura. Pode imaginar o tamanho do susto que levei na hora que vi aquilo. Não tinha nada ali um segundo atrás. Com a arma em punho eu juntei a coragem que me restava e tentei ao máximo parecer firme.
- Quem está aí?
Demorou um tempo até eu ouvir uma resposta.
- Não volte nunca mais!
Eu me assustei mais ainda ao reconhecer a voz com uma que ouvi no rádio. A minha. De quando ouvi a reprise de uma entrevista que eu dei em um programa policial.
Logo em seguida os braços metálicos subiram até a altura da cabeça. Não tive forças para me mexer ou dizer coisa alguma. Ao tirar o elmo com detalhes em dourado, vi meu rosto naquela armadura enferrujada. Estava cheio de machucados, arranhões e quase não consegui ver os olhos.
- Mas que merda--!
Eu disse isso e me virei. Abri a porta e simplesmente corri. Corri o mais rápido que eu pude.
Até hoje não sei se aquilo foi uma brincadeira, um evento sobrenatural ou só uma alucinação. Nunca ninguém me disse nada sobre o que aconteceu. O caso nunca foi solucionado.


Conto de Lucas Beça

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