A CADEIRA DO ZÉ

Por Ed Santos

Quando conheci o Zé Carlos, não sabia que um dia iria escrever algo sobre ele, logo o Zé que não tem muita coisa pra ser apresentada. Mas como o espaço me permite, então vamos lá.

O Zé Carlos eu conheci quando entrei numa pequena empresa onde trabalhei. Ele era um cara legal, sempre prestativo e dominava as atividades que exercia. Tinha um carinho especial por sua cadeira. Quando alguém por acaso pegava a cadeira do Zé, mesmo sem intenção, ou sem perceber, o Zé virava uma fera. Nosso supervisor uma vez trocou todo o mobiliário do escritório. Mandou comprar tudo novo, padronizado e enviou todo o mobiliário antigo para uma instituição de caridade do bairro. Só ficou a cadeira do Zé Carlos. Ele não largou a cadeira de jeito nenhum, e quase foi mandado embora por isso, mas o supervisor relevou. Afinal era apenas uma cadeira.

Depois de algum tempo, eu e o Zé Carlos passamos a ser amigos mais próximos. Saíamos pra tomar uma cervejinha às sextas-feiras após o expediente, jogávamos futebol juntos, íamos almoçar no mesmo lugar. Uma vez precisei pedir a moto dele emprestada e ele me passou logo as chaves sem ao menos perguntar se eu sabia pilotar. Gente boa o Zé. Até que um dia fui transferido para outro departamento em outro prédio e ficamos um bom tempo sem nos ver.

Numa reunião de trabalho, encontrei um colega em comum que havia trabalhado com a gente, e perguntei do Zé Carlos. O cara disse que ele tava numa pior. Tinha sofrido um acidente de moto. Um carro passou o sinal vermelho e acertou o Zé em cheio. Já havia uns oito meses que ele estava afastado. Passou.

Outro dia eu torci o joelho descendo as escadas e tive que ir no ortopedista, e não é que encontrei o Zé Carlos lá? A princípio não havia reparado naquele cara na cadeira de rodas com a cabeça toda enfaixada, mas depois olhando bem o reconheci. Trocamos algumas palavras sem sentido e depois daquelas perguntas óbvias sobre o estado de saúde de cada um, o Zé diz:

- Cara, eu num sei como sai dessa! A única coisa que me recordo é que eu ia indo até devagar, mas o cidadão infelizmente não respeitou o farol. Não deu tempo nem de frear. Só acordei no hospital, doze horas depois. Já operado e com um montão de tubo entrando no meu nariz e na minha boca.

- E depois disso? – perguntei curioso.

- Depois? Depois é isso aqui que você tá vendo. Olha amigo, você não imagina como é ruim ficar nessa cadeira. Aliás, hoje eu sinto falta é da minha cadeira lá no escritório, aquilo sim era cadeira. Sem esse negócio de roda. E ainda por cima duas rodas, parece que tô em cima duma moto de novo.

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