Conto de Gustavo do Carmo
Orgulhava-se de não fumar. Não
bebia uma gota de álcool. Drogas? Nem pensar. E ainda preferia um cinema, um
teatro, ler um bom livro e ficar na paz e no conforto de sua casa a frequentar
churrascos com os amigos, discoteca e sair com os amigos.
Mas amigo era uma coisa que Prudêncio
não tinha. Ninguém o procurava. Também nunca trabalhou na vida. Era formado em
jornalismo, mas nunca conseguiu exercer a profissão. Além de desinformado,
esquecido e indeciso, ele também não gostava de ir aos churrascos, praias e
muito menos a discotecas. Namorada? Sem chances. Seria prato cheio para
provocação dos sogros e amigos dela.
Deprimido, Prudêncio desabafava
com a mãe sobre as suas frustrações. Reclamava que, por levá-la à fisioterapia,
ao médico, às compras e à missa, arrumar a cozinha depois do almoço e pagar
contas para o pai, não merecia tanto boicote e sofrimento. Confessou que estava
com vontade de beber, fumar, cheirar e virar a noite na rua para ser mais
valorizado.
Teve que ouvir que ele comia
muita gordura, estava gordo, não dirigia, não gostava de crianças, não varria a
casa, não fazia o almoço, não fazia concurso público, não queria trabalhar na
loja de auto-peças do pai na Baixada Fluminense, não falava com os mais pobres,
tinha ideias muito preconceituosas e não acreditava em Deus.
Prudêncio tinha qualidades de um
homem responsável. Mas se recusava a aceitar que os seus defeitos eram em maior
quantidade e o deixavam com um saldo negativo na conta do sucesso e da
felicidade.
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