Cartas para ninguém (57, 58, 59 e 60)



- 57
Ontem eu e Karen tivemos nossa primeira briga.
Não foi bem uma briga, briga. Foi mais para uma discussão acalorada. Mas foi a primeira vez.
E foi por um motivo tão bobo, sabe...
Mas acordamos bem hoje, e isso é o que importa.
Bom, é que eu espero.


- 58
O Robinson veio me pedir dinheiro, depois de meses sem falar comigo. Apesar de que eu não fiz nenhum esforço pra tentar entrar em contato com ele.
Estava devendo um dinheiro por aí e precisava urgente.
Perguntei pra quem ele estava devendo, mas ele não quis dizer. Disse que não podia.
Então eu não emprestei. Até porque, se eu emprestasse o tanto que ele queria, ficaria com o orçamento apertado e, bom... Nós dois sabemos como o Robinson é... Provavelmente ele iria se “esquecer” que deve pra mim.
Não era a primeira vez.


- 59
Os pais da Karen vêm semana que vem visitá-la.
Eu estou bastante nervoso.
Você não estaria?
Não, né?
Mas ela me acalmou um pouquinho. Disse que eles são pessoas boas e tranquilas.
Mesmo assim, são os pais, sabe... É uma grande coisa.


- 60
Esses dias eu estava vendo alguns vídeos antigos e me espantei ao ouvir a sua voz.
Tinha me esquecido, apagado, ou como quer que os psicólogos chamem, da minha mente. O que eu temia aconteceu. E eu nem percebi.
Isso me assusta bastante.
Tentei me lembrar do seu cheiro, do seu perfume, mas também não consegui.
O seu cheiro no hospital é quase nulo agora.
Estou preocupado. Será que alguns vídeos antigos e fotos serão o suficiente para te manter viva na minha mente?


Parte 15 do conto de Lucas Beça

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