Crônica de Gustavo do Carmo
Quando o médico do CTI falou para a minha irmã que a minha mãe estava com infecção urinária, saí do centro
intensivo (depois de ter me recuperado de um quase desmaio), atravessei o longo
corredor do hospital e fui chorar copiosamente no banco próximo à janela.
Uma enfermeira percebeu que eu
estava aos prantos, soluçando, e se aproximou de mim para me consolar, perguntando
o que houve. Devia estar imaginando que a minha mãe tivesse morrido. Mas falei que
ela estava “apenas” com uma infecção urinária. Só que eu também estava arrasado
por ela ter perdido a memória, pois dois dias antes ela estava ótima de cabeça.
A funcionária disse que ela ia
ficar bem. E realmente ficou. Da infecção. Ainda está desorientada e falando
coisas sem nexo. Foi então que eu esclareci que quando sou pessimista as coisas
dão certo para mim. A enfermeira até perguntou: “Então é uma estratégia que
você usa?” Confirmei com a cabeça.
Se eu estivesse acreditando que a
minha mãe iria melhorar, talvez ela morreria. Quando fico sabendo que alguma
pessoa querida sofreu um acidente ou está com uma doença grave, prefiro não
dizer que ela vai melhorar. Fico em silêncio, pois não posso mandar energia
negativa para os outros porque fica chato, né?
Por isso eu sou pessimista. Quando penso numa coisa boa, dá tudo errado. Um jogo de futebol, por exemplo. Se eu
acho que o Flamengo e o Botafogo vão ganhar, eles perdem. Na Copa do Mundo estava confiante
que o Brasil iria ser hexa com o Tite. Caiu nas quartas-de-final. E logo diante
da Bélgica, um país sem muita tradição no futebol.
Na escola eu também sofria com
isso. Achava que tinha feito uma prova ótima. Tirava nota quatro ou cinco. Na faculdade,
pensava ter escrito um texto ótimo. Mas o recebia de volta, cheio de
comentários corretivos. No final de cada semestre, aí já entrava com o meu
pessimismo, esperava a reprovação. Mas eu passava. Raspando, é verdade.
O que mais me incomoda é nos
sentimentos por uma mulher. Toda vez que eu me imagino namorando alguém e ela
frequentando a minha casa, convivendo com a minha família, descubro que a moça
está noiva, vai casar ou está grávida.
O problema é que quando eu tenho
pensamentos negativos, seja com a saúde de alguém querido, no futebol ou com
uma mulher, as coisas também costumam dar errado, pois só os meus medos se realizam. Mesmo assim, continuo sendo
pessimista.
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