Não sei te dizer se era pra ser



Ela encara o teto. Suas irregularidades. As marcas, as sombras que o abajur aceso ao seu lado e as luzes da cidade vindas da janela acima de sua cabeça fazem. Estava assim já fazia uns bons dez minutos. Piscou duas vezes.

Cuidadosamente, para não acordar o homem que estava dormindo ao seu lado, sentou-se na beirada da cama. Alcançou o maço de cigarros em cima do criado mudo. Retirou um e o pôs na boca. Pegou o isqueiro. Acendeu. Deu uma baforada.

Se fosse julgada por cada uma das coisas ruins que fez durante sua vida, não sairia mais da prisão. Deixou que a fumaça saísse pelas narinas e boca.

Por conta disso, não costuma confiar em ninguém. Se tivesse pai e mãe, provavelmente não confiaria neles. Mas mesmo assim, acabou se apaixonado por aquele homem deitado na mesma cama que ela estava sentada agora. Não foi à primeira vista, já que o tinha visto nas várias fotos da pasta que o cliente que a contratou lhe deu.

Era para ser uma simples execução.

Ele vira-se na cama, mas continua dormindo. Ela coloca o cigarro na beirada do criado mudo. Levanta-se e vai até o banheiro. Encara sua versão ao contrário. Lava o rosto. Sai de lá e começa a se vestir. Pega sua mochila. Tira de lá uma garrafa de uísque. Toma um gole. Fecha e a coloca na mochila novamente. Calça as botas. Termina o cigarro.

Vai até a mochila novamente. Tira de lá uma arma. Contorna a cama. Para e olha o homem, que dorme tranquilamente.

Ele suspira.

Ela aponta.

Atira.

A bala entra pela bochecha esquerda e atravessa o crânio.

Dá dois passos perto dele. O observa por alguns segundos. Contorna a cama novamente, pega o maço de cigarros, o isqueiro e a mochila, e sai do quarto de hotel.

Não podia deixá-lo viver. Outra pessoa faria seu trabalho. Além do mais, ela era uma pessoa que cumpria com a sua palavra.

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