de Miguel Angel (in memoriam)
De idade indefinida, a pequena indígena, trazida pela mão da anciã, apareceu no estabelecimento e o unico traje que aparentava usar, era a negra cabeleira que se espargia nas espáduas cobrindo-a quase toda, permitindo entrever apenas o resto de poncho desgrenhado que vestia por baixo. À interrogação inevitável, a velha nativa lhe respondeu tratar-se de sua neta. E à socapa, avisou que o senhor da casa estava ciente. Neta de índia, sorrateira deve ser. Igual à avó. Concluiu Amanda, numa primeira suspeita malévola.
Nos dias que se seguiram, observando a menina realizar alegremente alguns afazeres da casa, achou seu julgamento precipitado e, ouvindo repercutir pelas dependências as risadas nas brincadeiras inocentes com os bichos da casa, sentiu-se culpada; a despeito disso, dia após dia, certos indícios reacenderam o alerta no momento em que deu com a cabrita se esgueirando rumo ao quarto onde Alfonso fazia a sesta; sem demora, observou tratar-se de método: a pequena aguardava a oportunidade de ela encontrar-se ocupada no armazém ou nos fundos da casa, para fazê-lo; se movida a ordens ou expertise natural, saberia em seguida; na desconfiança, resolveu a emboscada até descobrir a nova oponente num candente flagrante: Cavalgando sobre o desvairado marido, a trêfega indiazinha ria sem vozerio, coberta unicamente pela comprida cabeleira. Naquele momento engoliu o alarde e julgando-se astuta, preferiu guardar a descoberta...
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Trecho do romance Moscas e Aranhas de Guerra de Dalton W.Reis
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