Conto de Gustavo do Carmo
Foi apresentado a ela por um primo. Adorou conhecê-la. O contato foi rápido, durou apenas alguns minutos. Serviu somente para mostrar as fotos de uma revista masculina. Aliás, nem foi mostrada diretamente a ele e, sim, para outro primo. Regino viu apenas de carona. Afastou-se.
Reencontrou-a depois de um ano. Desta vez, a conheceu melhor. Teve direito a manejá-la. A sós. Achou interessante. Junto com ela, obteve informações de outros países. Afastou-se dela novamente.
Chegou a hora de Regino fazer a monografia de fim de curso. Pesquisou na biblioteca nacional. Tentou entrar em contato com a empresa que fabrica o tema do seu projeto experimental, mas não obteve resposta. Usou seu acervo de revistas e comprou alguns livros para fazer o trabalho. Sentiu muita falta dela. Percebeu o quanto ela seria necessária. Reencontrou-a em uma papelaria. Mas já estava com o trabalho quase pronto e, mesmo assim, era muito concorrida. Tinha que marcar horário para encontrá-la.
Já formado, pôde, finalmente, possuí-la exclusivamente para si. Só não podia ser durante as vinte e quatro horas do dia. Regino tornou-se dependente dela. A usava para procurar emprego, saber das notícias, divertir-se sexualmente, tirar pequenas dúvidas, etc. Com ela, fez e desfez amizades, algumas já antigas.
Dois anos depois, teve a oportunidade de poder usá-la durante o dia inteiro. Preferiu ser moderado. Usava em três períodos de quatro horas. Quando saía, ainda a encontrava na rua e a usava por uma hora.
Já se passaram mais de dez anos desde que Regino a conheceu na casa do seu primo, em São Paulo. A dependência de sua amiga já fazia mal ao rapaz. Ele começou a sair pouco, evitar conversas com a família e até com os parentes que o visitavam. Quando não podia encontrá-la, passava mal, com abstinência. Um dia, ficou vinte e quatro horas preso a ela e alguns amigos. Foi internado numa clínica de repouso. Lá, ainda perguntou se havia alguma lan-house onde pudesse entrar na internet.
Conto ambientado nos anos 2000
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