Por Miguel Angel (in memoriam)
De repente, o primeiro plano de Laura apareceu na frente, filtrando e obscurecendo - como abençoado íris -, o Fausto inamistoso e a sedenta platéia de sorriso estúpido... o despenteado, o hálito e o olhar bovino de Laura indicavam que sumira para beber escondida. Sentou ao seu lado e grudou no seu ouvido:
– Lauro, larga esse copo... Vem comigo, deixa te mostrar uma coisa...
(...) Lauro debatia-se com a dificuldade de focalizar Laura, muito mais a mãozinha gorducha mexendo na suas calças. No entanto, ao contrário daquela primeira vez, o excesso de bebida tornara seu pênis refratário ao avanço da mão na braguilha... “A bebida e seus excessos.” (...) E Laura? Onde estava ela? Entre suas pernas! Sumiram os deuses dos bêbados? Não enxergavam sua aflição? Os malditos deviam estar rindo e pulando no seu estômago. E Laura aproveitando-se. Pobre Laura, tinha-o à sua mercê, porém o maldito não correspondia. Em cruel compensação, o estômago soçobrou perigosamente de vazio e álcool. Se vomitasse numa hora dessas, no dia seguinte teria tudo preparado para o suicídio, e jamais encontrariam seu corpo. (...) Vigorosa chupada trouxe néctar ao qual Laura abençoou com a alegria esfuziante de troféu reconquistado e há muito tempo almejado. Com vigor preparou-se para continuar a colheita, subindo o vestido e arrancando a calcinha. Iniciando a escalada do monte, abriu as pernas montando em cima da barriga dele... (...) Ainda tonto, sentiu o calor dos pêlos molhados esfregando-se na sua virilha. A mãozinha gorducha de Laura agarrou o pênis para conduzi-lo “e ele a teria penetrado e gozado com doce sensação”... Foi nessa culminância que a porta se abriu no mesmo supetão e alguém de pé na porta estancou; Laura deu grito de ódio no seu ouvido. “Quem é o merda que está aí? Fora! Não vou dividir com ninguém!” E o ribombar de resposta: “Por que você não se mata, filha da puta!? E leva junto esse vexame alcoolizado debaixo de você!” O resto foi estrondo confuso de gritos, portas batendo, obscuridade e ataque de epilepsia.
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Fragmento do romance> A Cena Muda, de Miguel Angel Fernandez
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