Decidida, Clara ligou para a amiga
geneticista e confirmou:
— Geni, eu decidi. Vou fazer aquela
inseminação mesmo. Tá confirmada!
— Ok, minha amiga. Não vou nem perguntar se você tem certeza. Só uma coisa: e quando ele perguntar pelo pai?
— Ah, Geni, isso eu ainda não sei. Digo a verdade, ou apresento um rapaz qualquer. Ah, sei lá! Agora eu só quero mesmo ser mãe.
— Está bem. Então, amanhã você aparece aqui às nove.
— Combinado.
— Ok, minha amiga. Não vou nem perguntar se você tem certeza. Só uma coisa: e quando ele perguntar pelo pai?
— Ah, Geni, isso eu ainda não sei. Digo a verdade, ou apresento um rapaz qualquer. Ah, sei lá! Agora eu só quero mesmo ser mãe.
— Está bem. Então, amanhã você aparece aqui às nove.
— Combinado.
Clara confirmou a agenda e às nove da manhã bateu ponto na clínica de
reprodução assistida da amiga Geni, responsável pela inseminação daquele
esperma congelado. No mês seguinte confirmou a sua gravidez. Apesar da
possibilidade de gerar gêmeos, nasceu, mais nove meses depois, um único menino,
batizado de Pedro.
Geni foi escolhida como madrinha e o irmão de Clara, Cláudio, como padrinho de
Pedro, que cresceu como uma criança normal: saudável, esperto, inteligente, que
gostava de estudar e, claro, de brincar. O menino também cresceu alheio ao medo
da mãe de ser cobrada pelo filho para saber a origem do pai.
A cada ano que passava, Clara ficava ainda mais ansiosa por essa procura. Que
não acontecia. A angústia de ser cobrada deu lugar à angústia de avisar ao
filho que seu pai era apenas um doador. Ela não se perdoaria se Pedro
descobrisse na escola que era filho de um sêmen de aluguel. A primeira pessoa
consultada para saber se diria a verdade ao filho foi, naturalmente, a amiga
Geni.
—Ele já te procurou para saber?
— Não.
— Então, amiga. Pra quê essa neurose agora?
— Porque estou morrendo de medo dele descobrir pelos outros. Mas ainda não tive coragem para contar.
— Faz o seguinte, espera ele completar doze anos para abrir o jogo com ele.
— Não.
— Então, amiga. Pra quê essa neurose agora?
— Porque estou morrendo de medo dele descobrir pelos outros. Mas ainda não tive coragem para contar.
— Faz o seguinte, espera ele completar doze anos para abrir o jogo com ele.
Apesar da ansiedade exagerada de Clara, que já era notada por todos os seus
amigos, o tempo passou rápido e Pedro chegou aos doze anos. Dedicado à escola e
aos amigos da sua idade, o menino sequer se interessou em saber quem era o seu
pai. Mesmo perguntado, dizia que o seu pai morreu antes dele nascer. E estava
morto mesmo. Vinte anos antes da inseminação. Foi o que contou Clara, quase no
limite da ansiedade.
— Filho, deixa eu te contar: a mamãe fez uma inseminação artificial de um sêmen
congelado de um homem morto há mais de trinta anos.
— Que legal! Maneiro!
— Você não quer saber quem foi seu pai?
— Pra quê?
— Sei lá. Pra saber a origem da sua família.
— Eu não vim de você? A minha família é você, ué?
— Mas você não sente a falta de um pai na sua vida?
— Eu não. Respondeu Pedro, com desdém. Já tenho o tio Cláudio e a tia Geni que é quem me leva para o Maracanã.
— Então, tudo bem.
— Que legal! Maneiro!
— Você não quer saber quem foi seu pai?
— Pra quê?
— Sei lá. Pra saber a origem da sua família.
— Eu não vim de você? A minha família é você, ué?
— Mas você não sente a falta de um pai na sua vida?
— Eu não. Respondeu Pedro, com desdém. Já tenho o tio Cláudio e a tia Geni que é quem me leva para o Maracanã.
— Então, tudo bem.
Clara nunca mais tocou no assunto e jamais procurou saber do dono do sêmen que
gerou seu filho Pedro, tão gelado quanto o espermatozóide que lhe deu origem.
Conto de Gustavo do Carmo
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