Por Gustavo do Carmo
Sentados na mesa de um bar no subúrbio, dois amigos conversam.
— Tá esperando o quê pra aceitar o pedido, Adonir?
— Coragem, Feliciano.
— Está com medo de quê, rapaz!
— Dela mudar de ideia.
— A Salustiana te ama, cara! E, pelo que eu sei, ela não é mulher de mudar de ideia repentinamente. Vai por mim, Adonir. Aceita logo essa declaração de amor que ela te mandou por e-mail.
— Sim, vou aceitar.
Mal Adonir entrou em casa, vindo do bar com o amigo Feliciano, o telefone toca.
— Alô? Eu queria falar com o Adonir?
— É ele.
— Oi, Adonir. Aqui quem fala é a Salustiana.
— Oi, Salustiana. Que bom que você me ligou, meu amor. Eu estava mesmo querendo falar com você. Eu reconheci a sua voz, mas fiquei com medo de ser outra pessoa e passar um vexame.
— Nossa, por que passar vexame? O que você queria dizer de tão grave assim?
— É sobre aquele e-mail que você me mandou anteontem.
— Que e-mail? Eu não mandei e-mail nenhum anteontem.
— Se não foi anteontem então foi quando? Você estava se declarando para mim. Eu também estou apaixonado por você. Eu tentei disfarçar o meu sentimento para não te magoar. Não conseguia dormir sufocado por tanta paixão. Eu te amo, Salustiana!
— Ah! Agora eu lembrei. Foi um e-mail que eu mandei há oito meses e você não me respondeu. Nossa! Como o seu provedor é lento, hein? Somente agora ele chegou pra você?
— É que ele foi filtrado pelo anti-spam da merda do meu provedor. Ele libera os spans e bloqueia as mensagens sérias. Você me perdoa, tá? O pedido ainda está de pé?
— Agora é tarde demais. Na época eu fiquei chateada com a sua demora. E você podia ter me ligado também, né? Mania de só querer conversar pela internet! Acaba não saindo de casa. Agora já esqueci e te perdoei. Eu só estou te ligando para avisar que eu conheci um jornalista inglês no carnaval, ele reapareceu no mês passado e me pediu em casamento. Aceitei e vou morar em Londres com ele. Ele me arrumou um emprego lá. Eu te liguei também porque ainda quero continuar a sua amiga.
— Está bem. Parabéns! Boa viagem.
A voz de Adonir ao se despedir da amiga era um balbucio. Desligou o telefone e ligou para o provedor. Já esperava uma hora para cancelar a assinatura quando a ligação caiu.
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