Ele tinha um caderno verde e vermelho com várias coisas
aleatórias.
Uma lista com nove séries de televisão antigas. Lista de
filmes, com cinco que queria ver e um que queria rever. O que queria rever era O Poderoso Chefão. Até hoje a sua longa
duração não o deixou fazer isso.
Outra lista. Essa com nomes de escritores que alguém
recomendou. Há 14 nomes na lista.
Um layout de uma capa minimalista.
Anotações sobre como pronunciar o ed no final de verbos no passado em inglês. Ainda hoje fica confuso
com alguns.
Dois filmes que recomendaram, mas que nunca viu.
Uma lista de filmes que queria ver e viu.
Algumas de suas músicas brasileiras favoritas. Duas delas: Trem das Onze e No Olimpo.
Lista de projetos que eu fez ao longo dos anos. Alguns ainda
na gaveta.
Um verso tirado de uma música que ele não se lembra mais de
qual: Onde você vai acordar amanhã de
manhã?
A palavra surreal escrita em letras de forma sublinhada duas
vezes.
Mais um verso. Esse ele se lembra de qual música: You are my favorite what if.
Uma anotação/microconto/poema meio piegas:
A
nossa casa pode ser nossa alienação.
Estou agora dentro de um ônibus voltando para ela e percebo
que depois de vários dias confinado, é tão bom respirar ar de novo.
Conversar
com as pessoas de verdade e não por mensagens de texto.
Mesmo
com as falas entrecortadas, os silêncios embaraçosos; vale a pena o esforço.
Mas
é tão fácil simplesmente ficar lá dentro, protegido.
Uma frase em francês: Je
ne sais pas.
O título longo de um conto escrito em letras maiúsculas,
cada palavra em uma linha.
Mais um título escrito assim.
Tem mais uns poemas, mais umas anotações, mais umas ideias,
mas que não valem a pena serem colocadas aqui. Não que essas valham. Tinham seu
valor quando as escreveu pela primeira vez, num certo caderno verde e vermelho.
Conto de Lucas Beça
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