Conto originalmente publicado em 31/12/2008 às 23:55
O
filho que estava na barriga de sua esposa era a esperança de Juvenal esquecer o
péssimo ano que teve no trabalho. Jogador de futebol profissional, seu clube
foi rebaixado no campeonato nacional com o último lugar.
O
jovem atleta lembrou-se de uma coincidência que poderia sepultar de vez o ano
velho: havia a possibilidade do neném nascer na virada do ano. Se Johnson fosse
o primeiro bebê de 2016 a imprensa o procuraria, pararia de culpá-lo pela queda
de divisão do time e ele ficaria orgulhoso de conquistar o primeiro lugar em
alguma coisa.
Depois
de muita insistência do marido, Ravielli tentou marcar uma cesariana para o dia
31 de dezembro às onze e meia da noite. Ética, a obstetra recusou o
agendamento. Além de não querer uma cesariana desnecessária por vaidade e
egoísmo, a médica queria passar a virada de ano com a família. Só aceitaria
realizar o parto se a bolsa estourasse de repente. Aí sim teria o
maior prazer de ser chamada às pressas para trabalhar.
Juvenal
foi obrigado a se conformar e contar com a sorte que lhe faltou durante todo o
campeonato. Ravielli deu graças a Deus
por não poder se submeter aos caprichos do marido. Ela mesma preferia o parto
normal.
A
festa de réveillon na Marina da Glória teve de ser adiada para o ano seguinte.
A família se reuniria na maternidade. Ravielli teve as primeiras contrações em
casa por volta de nove da noite. Às onze entrou em trabalho de parto. Johnson
nasceu com quatro quilos e duzentos gramas no dia 31 de dezembro de 2015, às
onze e cinquenta e nove da noite. O primogênito de Juvenal foi o último bebê do
ano.
Recebeu
a notícia do nascimento do filho juntamente com os votos de Feliz Ano Novo
diretamente da obstetra, ainda com a touca, a máscara no queixo e o avental.
Juvenal ficou paralisado por dez segundos. Uma hora depois, o escrivão da
delegacia do bairro emitiu o primeiro boletim de ocorrência do ano.
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