Por Ed Santos
Finzinho de tarde. Aqueles prédios residenciais à direita da linha nunca entraram no detalhe do meu olhar. Hoje, vi que lá existe vida. Não saberia precisar qual o andar correto, mas vi alguém estendendo roupas no varal. Acho que era uma mulher, mas não posso afirmar. A única coisa que tive certeza era que uma calcinha estava sendo posta a secar. Como sabia? Sei lá! Apenas tinha certeza.
Homem tem dessas coisas, sempre tem certeza do que não vê, e aí, dimensiona o fato em proporções que lhe sejam favoráveis sempre.
- Você viu aquilo?
- O que?
- Aquela calcinha.
- Onde?
- No varal.
- Que???
- No varal! Tinha uma pessoa estendendo uma calcinha no varal de um apartamento ali atrás!
- Ali onde cara?
- Num daqueles prédios que a gente vê logo quando sai da estação.
- Sei.
- Então, cê viu?
- Vi nada. Aliás, como você conseguiu ver que era uma calcinha. Naquela distância toda!
- Tenho certeza!
- E a mulher, ao menos era bonita?
- Isso eu não vi não.
- Então cê tá querendo me dizer que viu que era uma calcinha, mas não viu quem tava pondo ela no varal?
- É!
- Cê tá maluco!
- Tô nada. Olha, posso dar os detalhes. Era uma calcinha branca com babados vermelhos na cintura e nas pernas. De algodão. Ainda bem, não gosto de lycra. Não parecia ser daquelas muito extravagantes e cavadas. Era do time das discretas. A calcinha. A dona... bom a dona eu acho que era uma mulher madura, mas que usava aquele tipo de calcinha pra provocar os homens, mostrando-lhes que tinha sentimento adolescente. Mas não vi sequer a sombra dela, apenas vi a calcinha. Foi o que me chamou a atenção.
- Cê viaja!
- Com certeza. Todo dia nesse trem! E nunca tinha visto uma calcinha tão bela.
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