Por Gustavo do Carmo
Crônica escrita em junho de 2007, atualizada agora.
Só estive duas vezes no Maracanã em toda a minha vida de trinta anos. Ambas para assistir a jogos do Botafogo e acompanhado do meu pai. A primeira vez foi em 1996. Um amistoso contra o Palmeiras destinado a arrecadar fundos para a renovação de contrato do zagueiro alvinegro Gonçalves, herói do título brasileiro conquistado no ano anterior e que estava prestes a sair porque o clube não tinha dinheiro em caixa. O chamado jogo “Fica Gonçalves”. Assistimos de cadeira especial, cada uma por 50 reais. Fomos embora no início do segundo tempo, para não pegar tumulto na saída da partida, que terminou em 1 a 1. Mas cheguei a ver o gol do Botafogo, ainda no primeiro tempo.
No ano seguinte, fiquei de cadeira comum para assistir à decisão da Taça Guanabara contra o Vasco em um domingo de Páscoa. Desta vez, além do meu pai, estava com um colega de trabalho dele e um primo meu. O Botafogo venceu por 1 a 0 e conquistou a taça que valeu como o primeiro turno daquele campeonato que conquistaria definitivamente na decisão contra o mesmo Vasco, meses depois. Nas duas vezes, fiquei fascinado pelo brilho do placar eletrônico.
Inaugurado em 1979, o painel que informa o resultado dos jogos realizados no Maracanã finalmente se aposentou em junho de 2007. Despediu-se no jogo Botafogo (mais uma vez) 3 x 1 Náutico, pelo campeonato brasileiro. Depois, o estádio foi fechado para os Jogos Pan-americanos, o que causou a grande polêmica anual do torneio nacional entre os clubes cariocas e o comitê organizador do evento poliesportivo.
O velho placar já foi substituído por um modelo eletrônico colorido, de formato estreito e longo, inspirado nos primeiros marcadores manuais do estádio, cuja história vou contar abaixo e que será tema de uma próxima crônica.
O Maracanã nasceu em 1950 com algumas placas emendadas de madeira, fundo branco e letras pretas. No meio, um relógio de ponteiros. Quando passou a realizar jogos noturnos, ganhou um novo placar, ainda manual, mas com mudança por manivela. Os clubes eram identificados pelas suas iniciais (CRF, BFR, FFC e CRVG) e havia uma luz de fundo. Mesmo assim, ficava lá, discreto nas arquibancadas, como o seu antecessor. Sem ofuscar o espetáculo que acontecia no palco verde.
O moderníssimo (para a época) placar eletrônico era, na verdade, três. Foram distribuídos pelas três curvas da elipse, na estrutura divisória entre as arquibancadas e as cadeiras comuns, e no centro oposto à cabine da rádio. Foi nesta posição que o quadro se tornou mais vistoso e famoso. Dominou o cenário do estádio nos últimos vinte e oito anos. Emoldurou as grandes jogadas de Roberto Dinamite, Zico e Romário.
O gol que iniciou a contagem do novo placar foi feito por Reinaldo Gueldini, na goleada de 4 a 0 do Flamengo sobre a América, no dia 11 de fevereiro de 1979, valendo pelo campeonato carioca especial.
O grande retângulo preto era formado por três painéis. No lado esquerdo circulavam informações úteis como achados e perdidos, publicidade, notícias gerais ou de outros jogos, homenagens e as informações do jogo corrente: escalação, substituições, público, bilheteria, advertências, expulsões e assinatura do gol. Neste último quando era de Zico ou Roberto Dinamite, aparecia até a imagem dos jogadores em meio a vários efeitos visuais, limitados pelas milhares de pequenas lâmpadas. No centro ficava o marcador de tempo de jogo, que foi proibido pela FIFA, dando lugar ao relógio comum. Embaixo ficava a temperatura ambiente. Finalmente, no lado direito, tínhamos o placar do jogo, com o nome do time e o resultado, um sobre o outro. Em seus últimos momentos, estava praticamente sucateado. O painel do relógio não existia mais e estava coberto por uma placa de publicidade. Algumas lâmpadas também estavam queimadas.
No último jogo antes de ser fechado para o Pan, despediu-se com o tradicional boa noite, acompanhado da uma expressão bem carioca: “Fui!”.
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