Conto
de Gustavo do Carmo
Tudo
estava dando certo para Suélio, depois de tanto sofrimento com cobranças
familiares. Até suicídio ele tentou. Já estava com quarenta anos, ainda morando
com os pais e escrevendo no próprio blog que não dava retorno, quando foi
procurado por um antigo colega de faculdade, que arrumou-lhe um emprego de
publicitário, profissão que ele sempre sonhou exercer. Meses depois, também conseguiu
uma namorada, uma colega do seu trabalho, com quem já estava noivo e iria se
casar.
No
sétimo andar de um prédio vizinho à agência onde Suélio trabalhava, o viúvo
Nestor observava a janela panorâmica, pensando saudoso na sua esposa Dora, que
morreu de câncer cinco anos antes.
Morava sozinho e estava em depressão. O filho, residente no interior do
estado, tentou levá-lo para morar com ele, mas Nestor se recusou. Era muito
apegado à cidade.
A felicidade de Suélio levou uma chuva da
tristeza de Nestor. A saudade de Nestor acertou em cheio a realização de
Suélio. Nestor se jogou da janela. Suélio recebeu o pesado impacto do corpo de
Nestor. Os dois morreram com o choque
dos sentimentos opostos. Em comum entre eles só a perda para as suas famílias,
inclusive para o filho que estava no ventre da noiva de Suélio.
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