Cartas para ninguém (69, 70, 71 e 72)



- 69
Hoje eu encontrei uma carta que você me enviou quando eu viajei para o Rio de Janeiro nas férias de fim de ano. Foi a minha primeira grande viagem desde que eu me conhecia por gente.
Foi uma trabalheira danada. Tive que arrumar o endereço do hotel, fiquei todo ansioso, esperando pela carta...
Acho que a gente tinha 9 anos, não é mesmo?
O papel já está todo amarelado. Não dá pra ler quase nada, você escreveu à lápis.
A única coisa que dá pra ler é o remetente e o destinatário, com o meu e o seu nome.
Foi a primeira vez que eu recebi uma carta.
Foi mágico.


- 70
Estou escrevendo essa carta enquanto escuto o CD do Dave Matthews Band que você me deu de aniversário ano passado.
O próximo está chegando e pela primeira vez em muito tempo você não vai estar presente.
A Karen foi à padaria buscar meia dúzia de pãezinhos pra gente tomar café agora há pouco.


- 71
O Robinson se meteu em uma confusão em uma balada e acabou sendo espancado.
Vi a notícia no jornal da cidade.
Uma pena, ver como o nosso amigo se desviou tanto e está assim, nesse caco.
Talvez eu ligue pra ele.


- 72
Ontem foi o seu aniversário.
Nós cantamos parabéns e comemos um bolinho, eu, a sua mãe e a Karen.
Eu comprei um daqueles balões com gás hélio e amarrei na beirada da sua cama.
Eu sei que é bobo, mas eu me lembrei de quando a gente tinha uns 7 anos e você juntou várias moedinhas que a sua mãe te dava pra comprar doce. Você passou mais de um mês juntando e quando finalmente tinha o dinheiro, comprou o tal balão que flutuava tão almejado.
Mas aí um cara veio correndo atrás de você, em direção ao ponto para pegar o ônibus que estava vindo, esbarrou na sua mão e o balão voou.
Pronto, eu te dei um de aniversário novinho.


Parte 18 do conto de Lucas Beça

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