Era sábado. Mais um sábado em que
Matheus não sabia o que fazer. Acordou tarde. Tomou um banho, bebeu o resto do
café frio do dia anterior e saiu para almoçar fora, em um restaurante barato
próximo de seu apartamento.
Era dia de feira de artesanato.
Lembrou-se disso e decidiu ir até lá para se distrair.
Havia todo tipo de bugiganga,
panos, tapetes, enfeites... Porém algo chamou sua atenção. Na verdade alguém.
No final da rua, uma moça – até
que bonita – estava em uma barraquinha vendendo pequenos quadros pintados à
mão. Matheus estava indeciso se se aproximava ou não. Foi. Fez isso
tortuosamente, dando pequenos passos, tentando fingir que não sentia
nervosismo.
Ele parou na barraquinha da moça.
Olhava os quadrinhos, olhava ela. Desviava o olhar quando ela fazia o mesmo.
“Gostou de algum?”
“Hã, eu... É... Sim, sim.”
Tentou dar um sorriso. Não deu
muito certo.
“São muito bonitos. Você que
pinta?”
“Sim. Bom, eu tento.”
“Não, não, eles são ótimos.”
O silêncio embaraçoso.
“Hã... Eu vou almoçar agora, é...
Você vai ficar aqui até quando?”
“A tarde toda.”
“Então eu passo na volta.”
E saiu desajeitado.
No almoço não conseguia parar de
pensar na pintora.
Ele voltou lá.
“Oi”, disse ele. Ela estava
distraída dando o troco para uma senhora. Ao fazer isso se sentiu um idiota por
tê-la interrompido.
“Ah oi. Você veio.”
A senhorinha agradeceu e foi
embora.
Ele comprou um de seus quadros.
Não tinha coragem nem de
perguntar o seu nome.
Ia saindo quando se perguntou
qual seria o pior cenário.
Deu meia volta.
“Escuta... Hã... Você me desculpa
se eu for inconveniente, é que eu te achei muito interessante e... Será que eu
podia, sei lá, te pagar um sorvete ou...”
Ele parou.
Ela estava sorrindo, achando
graça da situação.
Estendeu a mão a ele.
“Sou Amélia.”
Seu coração batia forte. Estava
segurando a sacola com o quadro na mão direita. Trocou as mãos, quase
derrubando o quadro. Por fim conseguiu cumprimentá-la.
“Matheus.”
“Prazer em te conhecer.”
Os dois riram.
“E eu adoraria um sorvete.”
Amélia aceitou sair com ele. O
circo estava na cidade. Meio bobo, mas cidade pequena, não há muita coisa para
se fazer. Logo após saírem da atração, passearam na praça principal e foram
para um bar. Pediram duas cervejas e sentaram num banco do lado de fora.
“... Mas foi muito engraçado.”
“Ainda acho que foi meio bobo...
Sei lá. Circo. Podia ter te levado pra um lugar melhor.”
“Não, foi legal. Eu gostei.”
“Bom, acho que eu estou meio
enferrujado.”
“Quanto tempo foi casado?”
“Humm... Acho que perdi as contas.”
“Foi tanto tempo assim?”
“Na-a. Foi pouco, na verdade.”
Deram um gole cada um.
“E você?”
“O quê?”
“Casada?”
“Não, solteira.”
“He he. Sim, mas já foi algum dia?”
“Não, pelo amor de Deus!”
Ele ficou sem graça.
Depois pensou melhor.
“Acho que tem razão.”
“Pois é. Mas me conte mais sobre
você.”
“Não sou tão interessante assim.
Você que é a artista.”
“É...”
Ela disse isso tristemente.
“Assunto delicado?”
“Não, é que... A paixão foi
embora. E as contas começaram a chegar... Agora é só um hobby.”
“Pelo menos você tem um. Tem
vezes que eu chego em casa e não tenho nada pra fazer.
Beberam mais um pouco de cerveja.
Continuaram a conversar.
Conto de Lucas Beça
0 Comentários