TARDE DEMAIS 27 – A NOIVA


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Conto de Gustavo do Carmo

Entrou triunfante na igreja. Realizava o seu sonho de infância: se casar vestida de branco, de noiva. O futuro marido era idealmente bondoso, bonito e rico. A música não estava escolhida. Era uma surpresa que o noivo faria.

Blush, sombra e pancake se misturaram às lágrimas do seu rosto provocadas não pela emoção do acontecimento tão sonhado. E sim a decepção de ver a igreja silenciosa e vazia.


Convidados, padrinhos, pajem, dama de honra e o noivo. Todos já tinham ido embora. Só restaram o padre e a decoração que já começava a ser retirada.  Já aos prantos, correu até o padre, que já estava à paisana no altar.

— Padre! O que aconteceu? Cadê o meu noivo? Cadê a orquestra? Convidados? Cadê todo mundo?
— Ora, minha filha! Como você pode ver: já foi todo mundo embora. Eu é que te pergunto! O que deu em você que não apareceu? Veio todo mundo que você falou. A igreja estava lotada. Esperamos quatro horas por você nada! E não deu sequer uma explicação. Seu noivo saiu daqui desesperado e humilhado, soluçando de tanto chorar. Desejou-te desgraças. Seus sogros e sua cunhada te amaldiçoaram. Agora é tarde demais, né?

E o padre só não deixou a noiva falando sozinha porque ela estava muda. Voltou para a sacristia. O pai de Kaylane, que a acompanhava a confortou e a ajudou a entender o motivo.


— Está vendo no que deu pensar em desistir do casamento por insegurança, dispensar a cabeleireira, a maquiadora para depois mudar de ideia e correr atrás de um salão de beleza que encontrou lotado? Sem falar no trânsito que enfrentamos e da decisão de ficar incomunicável para criar suspense, minha filha. 

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