Era a primeira vez dele. Enfim iria perder a virgindade. Estava em casa com a primeira namorada. Ou a primeira mulher que conseguiu levar para cama. Não sabia se o relacionamento iria continuar a partir dali.
Cansou-se dos homens. Tinha acabado de terminar um namoro de dez anos com um empresário rico com a internet. Estava quase marcando o casamento com ele. Um “mauricinho babaca”, segundo ela, que ficou arrasada quando descobriu que foi traída. Este já era o seu terceiro namorado. Antes, ficou cinco anos com um surfista na adolescência e foi a “outra”, durante dois anos, de um vereador que tinha idade para ser o seu avô.
Já tinha passado dos 40, quase chegando aos 50. Os pais, com quem ainda morava, não ficariam contra o namoro, pelo contrário. Queriam muito que o filho desencalhasse. Mas levou a moça, que beirava os 30, para casa antes de apresentá-la a eles. O pai tinha viajado e a mãe passando uma semana na casa da outra filha, irmã dele.
Natalie sabia que Raul era tímido e já no ponto crítico da imaturidade. Mas juntou a decepção com os três namorados anteriores com o sentimento de amizade que tinha por ele. Arriscou e cedeu aos seus encantos. Embora imaturo e por vezes bobo, Raul era um homem de caráter. Delicado, não romântico. Respeitava as mulheres, o que Natalie sempre admirava. Era honesto e sincero, mas às vezes, exagerava na sinceridade.
Ambos tinham traços físicos que agradavam mutuamente. Natalie, pele clara, cabelos pretos, seios grandes e magrinha. Raul, moreno mais bronzeado, sem ser mulato, e cabelos pretos lisos. Já estava bem fora de forma, mas ainda não podia ser considerado gordo. Ela gostava de um gordinho.
Eles começaram a despir um ao outro. Pareciam apressados. Beijavam-se ardentemente. Tudo estava indo bem. Até que um cheiro estranho invadiu o quarto do rapaz logo que tiraram os respectivos sapatos. Um cheiro de queijo forte. Não havia dúvidas: era um chulé.
Passaram a trocar acusações mútuas. O clima romântico já quebrado. Uma discussão de casal em crise tomou conta do quarto. Quase chegou aos vizinhos.
— Meus três namorados anteriores eram canalhas, mas não eram porcos.
— Então arrume outro mais limpinho. Se é que os outros não achavam você fedida!
— Fedido é você!
— É você!
Começaram a rir e voltaram a se beijar ardentemente. Foram tomar banho juntos. A noite que quase foi estragada foi salva como se alguém tivesse borrifado um desodorante de lavanda.
Assumiram o namoro. Casaram-se. Tiveram dois filhos. Enriqueceram juntos com uma casa de festas. Dez anos depois, Natalie se separou de Raul, o chamando de mimado fedido, mesmo com o mau cheiro vindo sempre dela.
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