Conto de Gustavo do Carmo
Todos babavam pelo bebê gordo e moreno claro, nascido há três dias. Tinha acabado de ser registrado como Henrique Soares de Azevedo pelo pai Arthur, recém-chegado do cartório, para onde tinha ido com o irmão Carlos, que foi a testemunha da certidão de nascimento.
— Ele é lindo. — Dizia uma tia de Arthur.
— É a cara do pai. — Disse a avó paterna da criança.
— Eu acho ele mais parecido com a mãe. — Discordou o avô paterno do menino.
— Quando é que vai ser o batizado, Clara? Eu quero ser o padrinho. — Perguntou Carlos.
Clara, a mãe do bebê, fez uma cara feia, contrariada com a babação ao seu filho por parte de toda a família do homem desconhecido que a estuprou na praia após vê-la de topless e se encantado pelos seus fartos seios. Respondeu com um seco “Não sei!” e retirou-se do quarto do bebê.
Arthur chegou a ser preso por estupro, cometido após ele dominá-la no mar e levá-la para as pedras no fim da orla, em plena luz do dia. Mas foi solto porque tinha residência fixa e família e o juiz disse que ela provocou o seu desejo ao estar sem a parte de cima do biquini fio dental.
O advogado dela recorreu da decisão machista, mas a burocracia foi tanta e demorada que Clara desistiu e acabou se afeiçoando ao seu estuprador, que era virgem até atacá-la. Retirou a queixa e foi morar com ele. Mas prometeu nunca lhe dirigir a palavra. O estupro que gerou o segundo filho, desta vez, uma menina chamada Mercedes, foi em silêncio. A família dele ficou em estado de graça mais uma vez. Mercedes Soares de Azevedo foi registrada pelo pai e o tio Carlos como testemunha.
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