TRAIDORA



Conto de Gustavo do Carmo



— Seu marido sabe que você está aqui comigo? — Perguntou o amante, após o ardente sexo no motel, enquanto cobria a parte íntima com o lençol.

— Sabe! Sabe! Abri o jogo com ele antes de vir. — Respondeu a jornalista, se levantando nua da cama e se vestindo.

— Sério que você disse que tem um amante? E ele aceitou ser corno?

— Ele me disse que prefere ser chifrado por mim a me ver transferida para São Paulo. Ele odeia esse estado.

Ricardão. Ou melhor, Ricardo, diretor de jornalismo da emissora onde a bela Mercedes Agnelli trabalhava como repórter no Rio de Janeiro, onde nasceu, respira fundo e dá um sorriso malicioso antes de dizer:

— Bem. Acho que ele não vai ficar muito feliz com você. O diretor local de São Paulo me perguntou sobre você e quis saber se está interessada em ser transferida para lá.

— Não brinca! Mas é claro que eu quero! Sempre foi o meu sonho! E também não aguento trabalhar nessa cidade, nesse estado falido e violento. Ter que ficar usando colete e capacete para não morrer de bala perdida!

— Mas e seu marido?

— Ele que procure outra! E infantil e sonhador do jeito que é, duvido que vá conseguir. Vai acabar os dias dele virando babá de idoso! Já cuida da mãe, depois vai cuidar do pai... Vai ser pra quando a transferência?

— Amanhã mesmo já falo com ele e te levo para lá. Você tira uma semana de folga para procurar apartamento e acredito que no início do próximo mês já estará gravando uma passagem com a Avenida Paulista ao fundo. E sem colete nem capacete.

Ansiosa para se transferir para São Paulo, Mercedes não hesitou em contar a novidade para o marido.

— Amor, tenho uma notícia chata para te dar!

— Você quer o divórcio, não quer? Não me abandone. Eu não aceitei o seu amante?

— Por isso mesmo. Lembra que você me disse que prefere que eu tenha um amante a me ver transferida para São Paulo?

Lucas gelou. Ficou imóvel de tensão. E começou a gaguejar:

— Vo-você não está-tá di-dizendo que...

— É isso mesmo, Lucas. Recebi uma proposta irrecusável para trabalhar em SÃO PAULO! E vou aceitar. Ou melhor, já aceitei. Aliás, agora mesmo estou indo viajar para lá, me encontrar com o diretor local e passar uma semana lá para procurar apartamento!

Lucas bufou e mudou rapidamente o semblante para uma aparência de psicopata que ele não é. Levantou-se, aproximou-se de Mercedes e desferiu-lhe um tapa na cara!

— VAGABUNDA! PIRANHA! SAFADA! PROSTITUTA! JÁ NÃO BASTA TER ME TRAÍDO COM OUTRO HOMEM E AGORA ME TRAI SE TRANSFERINDO JUSTAMENTE PARA O LUGAR QUE EU DETESTO! EU QUERO O DIVÓRCIO! AGORA SAI DA MINHA CASA!

— Com todo o prazer! Não aguento mais a sua imaturidade, o seu corpo gordo, o seu suor e o seu jeito de viver de pobre! Eu sou rica!

— O que você chama de jeito de viver de pobre eu chamo de humildade, sua vaca!

Lucas voltou a morar com os pais e nunca mais assistiu a um telejornal. Até se apaixonar por outra jornalista, conhecê-la pessoalmente através de um aplicativo de namoro. Por ironia do destino, Amanda di Paula era paulista de Ribeirão Preto e veio trabalhar no Rio pelo novo namorado, que se tornou marido. Casaram-se e tiveram um filho, Matheus. Viveram felizes até Amanda, que nunca o traiu, ser transferida para Londres. Lucas não pôde ir porque precisava cuidar da mãe idosa.
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