O telefone tocou, ele atendeu

 


Depois de mais um dia de procura de trabalho, colocada a roupa batida de dormir, ligou a TV e procurando alguma coisa no YouTube, deu vontade de ouvir Johnny Cash.

Se deu conta de eu nunca havia visto um show completo dele na vida. É claro que tinha visto a biografia com o Joaquim, vira várias apresentações dele em videoclipes. Mas nunca um show inteiro.

Começou a ouvir música country quando era criança. Até que gostava do gênero no geral, tanto o americano quanto o sertanejo brasileiro raiz, mas não costumava ouvir muito. Exceto Johnny Cash. Folsom Prison Blues sabia de cor. American IV foi ouvido exaustivamente na adolescência.

Foi passando pelas sugestões do Seu Google. Queria ver um show bem antigo, do anos 60, 70. Apareceram alguns do final dos 80 e 90.

Colocou um pra tocar. Não era bem um show, mas uma compilação de várias performances. A segunda música era com um outro cantor country que ele não conhecia. A terceira Johnny Cash e June em vestimentas de gala. Cash com camisa de babados.

O telefone tocou. Ele atendeu. Era seu amigo _____.

- E ae, _____.

- Fala, Robson.

Alguns segundos de silêncio.

- Tudo certo amanhã? Posso passar aí às seis?

- A-hã, pode ser, combinado, disse Robson.

- Fica tranquilo. Vão contratar a gente, cara. Sei que a grana não é muita, mas acho que vale a pena.

Ele não disse nada.

Suspirou.

- Robson? Tá aí?

- Tô.

- Ah.

...

- Que cê tá fazendo?

- Ouvindo música.

- Humm. Bom, já vou dormir daqui a pouco. Vê se não se atrasa amanhã, viu?

- Beleza, _____. Falou. Até amanhã.

- Falou.

_____ desligou.

Robson ficou olhando para a tela. Um desânimo tomou conta de si. Pensou em ir dormir cedo como _____ disse que faria. Acordaria bem disposto no dia seguinte, faria uma boa entrevista, conseguiria o emprego, o dinheiro, as regalias. Dentro de alguns meses seria promovido. Nos anos seguintes tiraria férias na Europa e em ilhas paradisíacas. Tudo certo.

Saiu do YouTube e colocou no jogo.

Era quarta de noite.

Pegou uma cerveja, abriu um salgadinho. Voltou para o sofá.

 

 

Conto de Lucas Beça

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