Só para de me encher o saco


            Eu olhei para ele e ele falou

            - Pô, cara, você só pode tá de brincadeira comigo, né?

            Mas eu não tava.

            - Cê tá de zuera que cê não lembra de mim!

            Eu não lembrava. Porra, para de me encher o saco, cara. Só tava querendo beber minha cerveja em paz.

O dono do comércio olhou para mim como quem se compadecia da minha situação.

            - Não, não, não. Não vou aceitar um não como resposta, pô! Cê tem que lembrar de mim, caraio!

            Suspirei.

            O cara tinha uma Heineken na mão e ficara de cinco em cinco minutos dizendo que a bateria tinha acabado e que precisava de um carregador pro iPhone dele.

Ano que vem eu vou arrumar tempo pra entrar num curso de como se livrar de maluco.

            Aí o cara começou a falar em inglês que ele gostava da Heineken porque era a melhor cerveja que existia. Disse que era estudante de línguas e que sabia falar inglês, espanhol e holandês, além do português.

Fingi que não entendia o que ele estava dizendo, mesmo entendendo a porra toda, inclusive o uso incorreto de pronomes e pronúncia ruim demais.

- Olha, cara, qual o teu nome mesmo?

- Jorge.

- Tá, ok, Jorge, vou te falar a verdade. Só quero beber essa cerveja em paz, tá. Não lembro de você, acho que você me confundiu com outra pessoa.

#chateado, ele disse.

Caralho, pensei. Era só o que faltava.

Suspirei mais uma vez.

- Tá, foi mal.

Me virei pro dono do bar e perguntei quanto devia a ele.

- Ôu, to falando com você.

Ele me empurrou de leve.

Me virei pronto pra dar um soco, mas ao invés disso peguei a lata que ele segurava, tirei da mão dele, amassei e joguei pra fora do bar. Ainda estava cheia.

- Vai se fuder, eu disse.

Ele veio pra cima de mim. Eu tirei meu corpo e ele tropeçou e caiu de cara no chão.

Tirei uma nota de cinco da carteira e dei pro dono do bar.

- Tá certo. Fica com o troco.

Beleza, disse ele.

Enquanto o cara tentava se levantar, virei as costas e fui embora.

Parece que essas merdas só acontecem comigo.

 

 

Conto de Lucas Beça

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