Blues, jazz & chill



            Apenas ouço a chuva que cai lá fora.

            Desliguei todas as luzes. Uso meu celular como lanterna para ler um livro de contos de um certo autor.

            O silêncio domina.

Faz sua majestosa aparição em meio ao barulho de personagens marginais e o barulho da chuva.

Mas eu resolvo sair. Me movimentar um pouco.

Ligo a nave e levanto voo. É uma pequena. Tem 22 anos de uso, mas dá pro gasto.

Coloco numa rádio lofi. Para pilotar não tem nenhuma melhor. Pelo menos eu acho.

A previsão era de chuva ácida hoje, eu ouvi no noticiário, mas está fraquinha.

Coloco o fone para ter uma imersão, sabe?

Paro num posto de combustível.

Essa nave que eu tenho é pequena, compacta e elétrica. Dura uns três dias sem recargas, mas gosto de ser precavido, assim mesmo com ainda 55%, vou “encher o tanque” mesmo assim. Hahaha. Encher o tanque.

Plugo a tomada nos prismas de abastecimento.

A rua está pouco movimentada.

Entro na loja de conveniência e compro um energético.

A atendente de sardas me dá um desconto.

- Pra virar cliente, ela diz sorrindo e ficando vermelha.

Valeu, eu respondo.

Pago e sento no banco do lado de fora.

A chuva cai.

Um carro passa por nós. É um clássico dos anos 2050.

Abro a lata com cuidado para não derramar sobre a minha calça. A cada 10, numas três eu faço isso.

A moça sai de trás do balcão e se encosta na porta de vidro, perto de mim.

Sinto o seu olhar.

Tomo o primeiro gole.

- Achava que vocês não podiam sair de trás do balcão.

Eu ri.

Por quê? Hahaha.

Eu sorrio.

Quer?, eu pergunto, estendendo a lata para ela.

Era uma de 600 ml.

Ela pega e toma um gole.

Design legal dessa sua nave, ela diz, enquanto me devolve a lata.

Humm, eu digo, dá pro gasto.

 

Depois disso eu disse meu nome. Ela disse o dela. Fomos pra cama ali mesmo na nave, enquanto ela ainda estava cumprindo seu turno.

Naquela pequena cidade fantasma ninguém apareceu o resto da noite.

Ela dormiu comigo e quando ela acordou eu tinha colocado a nave suspensa de onde dava pra ver a cidade toda. Tinha parado de chover.

Ela estava usando uma camiseta minha.

           

Eu era o típico vagabundo que andava de cidade em cidade. Ela era a típica garota que queria um dia sair daquela cidadezinha e viver numa grande e romântica metrópole.

Namoramos. Ela se juntou a mim nas minhas andanças.

Fiz alguns amigos, alguns inimigos.

Morri numa emboscada por causa de alguns mils.

Ela sobreviveu e ficou com a nave.

Depois disso não sei o que aconteceu com ela.

Mas foi um bom começo.

 

 

Conto de Lucas Beça

Postar um comentário

0 Comentários