Marcelo estava pescando ali sentado,
enquanto Lívia assistia o verdadeiro Pica-Pau na tela da televisão.
Ei, Marcelo?
Hã... Quê?
Disse sonolento.
Vai dormir na cama.
Não,
deixa. Aqui tá bom.
Não, vai lá.
Ele esfregou os olhos. A visão ficou ainda
mais embaçada.
Mas e você? Você não dormiu a noite
toda.
Vai lá, fica tranquilo.
Marcelo levantou-se com dificuldade e
foi até o quarto de Lívia meio que cambaleando.
Desabou nos lençóis cheirosos de Lívia.
Lívia desligou a televisão. Começava a
passar um desses desenhos novos que ela não suportava.
Foi até a cozinha e encheu a xícara de
café mais uma vez. Encostou-se na pia e bebeu todo o café de uma vez.
Olhou para o relógio na parede. Sete e
vinte.
Seus olhos ardiam de sono. Mas ela não
queria dormir. Se fizesse isso não conseguiria dormir à noite.
Pôs a xícara na pia, pegou seu celular
e foi ao quintal atrás da casa.
Mensagens. Várias sem importância.
Facebook. Nada que não estaria ali todos os outros dias e que ela não se
importava. Twitter. Algumas boas piadas, outras nem tanto, muita tempestade em
copo d’água. Instagram. Curtiu algumas fotos, muitas faltavam veracidade.
Cansou-se logo.
Não queria ouvir música.
Não queria ver vídeos no YouTube.
Não queria dormir.
Não queria sentir tédio.
Não queria o cotidiano depois de uma
noite toda acordada “se divertindo” aos olhos dos outros que a viam.
Décimo segundo capítulo do conto de
Lucas Beça
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